15 de jan. de 2009

Dos Meios às Mediações: Cultura e Educação

Trabalho Aplicativo para a conclusão da disciplina Introdução à Antropologia, ministrada pela profª Profª Andrea Jakubasko, da Faculdade de História da Universidade Federal de Mato Grosso, Dez 2008.

Brother, assuma sua mente, brother
E chegue a uma poderosa conclusão
De que os blacks não querem ofender a ninguém, brother
O que nós queremos é dançar, dançar, dançar
E curtir muito Soul
”.
Gerson Combo. Música Mandamentos Black.


Este trabalho visa estabelecer uma relação entre os textos Dos Meios às Mediações: Comunicação, Cultura e Hegemonia, escrito por Jesús Martín-Barbero, e a Cultura e educação na roça, encontros e desencontros, de José de Souza Martins.
A obra de Jesús Martín-Barbero, espanhol radicado na Colômbia desde 1963, caracteriza-se por estabelecer um dialogo da Comunicação, Sociologia, Economia e História, relacionado ao papel dos meios de comunicação de massa com os processos de formação de identidades sociais.
No livro, Barbero, reformula o conceito de cultura e revê o processo de comunicação por inteiro, a partir do estabelecimento do conceito de mediações, deslocando o foco da análise da comunicação dos meios para as mediações. Seu objetivo era investigar o papel que os meios massivos exerceram nas diversas fases da modernização da América Latina.
José de Souza Martins vai tratar da cultura, especialmente da língua e da linguagem, da roça. Para ele as pessoas da zona rural seriam “herdeiras de complexas tradições, de uma cultura rica e abrangente, de valores centrados fortemente na concepção de pessoas”.
O Iluminismo, mesmo vendo o povo como instância legitimadora do governo civil, no âmbito da cultura, traz uma idéia negativa do popular, que sintetizaria tudo que estes querem ver superado: superstição, ignorância, desordem, irracionalismo. Sendo o termo utilizado apenas para legitimar o poder da burguesia: contra a tirania em nome da vontade popular, mas contra ele mesmo em nome da razão. É nesse movimento que são geradas a categoria oposta do culto e do popular. Para José de Souza Martins: “há uma velha condenação política de esquerda do que é espontaneísmo popular e sobretudo camponês, baseado na suposição (do próprio Marx, aliás) de que os camponeses representam a barbárie, a incompetência política”.
O Romantismo, no entanto, construirá um novo imaginário no qual, pela primeira vez, adquire status de cultura o que vem do povo, sendo então, o popular um espaço de criatividade, atividade e produção, fazendo progredir a idéia de que existe uma outra cultura que vai além da cultura hegemônica. Para Souza Martins, a língua portuguesa no Brasil “ficou mais doce mais lenta, mais descansada (...) não raro viajamos nos toponímicos tupis”.
A partir dos românticos constituem o folk, volk e o povo que para Barbero “parecendo falar do mesmo, no movimento ‘traiçoeiro’ das traduções (...) folk tenderá a recortar-se sobre topos cronológico, volk o fará sobre um geológico e peuple, sobre um sociopolítico”. Para ele o rural “configurado pela oralidade, as crenças e a arte ingênua, e o urbano, configurado pela escritura, a secularização e arte refinada: quer dizer, nomeia a dimensão do tempo na cultura, a relação na ordem das práticas entre tradição e modernidade, sua oposição e às vezes sua mistura”.
Nesse aspecto José de Souza Martins diz que “ignoramos completamente a extensa e profunda presença da cultura camponesa e rural mesmo em metrópoles presumidas como modernas e completamente urbanas”. Ele continua dizendo que “o campo é profundamente ligado às grandes cidades pelo elo vivo e ativo das migrações temporárias (...) o campo é hoje cotidianamente alcançado pelo rádio e pela mentalidade urbana que por ele se difunde”.
Souza Martins nos instiga a pensar a problemática da comunicação, desenvolvendo questões importantes como a caracterização dos espaços cotidianos através da mistura de elementos de suas matrizes culturais antigas, como o rural, transmitindo aos grupos que pertencem.
Martín-Barbero fala do popular-massivo, onde o popular tem certa autonomia sobre o massivo. O popular é assimilado pelo massivo, mas não se esgota nele, pois, se entendido no sentido de memória valorizada como elemento ativo, é uma memória que seleciona, que funciona como resistência perante o massivo, como a linguagem Nheengatu e as violas e os violeiros descritos por Souza Martins.
As idéias de Jesus Martín-Barbero e de José de Souza Martins são contemporâneas, produzidas no século XX, a formação de ambos acadêmicos está na filosofia, sendo as reflexões de Barbero concentradas na produção da comunicação e de Souza Martins na cultura do meio rural não dissociado do urbano.
Mas a negação do popular não é só temática, não se limita a desconhecer ou condenar um determinado tipo de temas ou problemas, mas revela a dificuldade profunda do marxismo para pensar a questão da pluralidade de matrizes culturais, a alteridade cultural”.
Isso a que Barbero se refere vemos em Souza Martins quando discorre sobre uma lista de absurdos cometidos por alunos que realizaram a prova do Enem – Exame Nacional do Ensino Médio -, onde descreve que as “as palavras e imagens postiças no mundo social do povo, na cultura em que efetivamente as pessoas vivem, em casa, na rua, no trabalho e na própria escola, que não é a cultura da sala de aula”. E outro ponto Souza Martins diz que “as provas do Enem nos mostram que a língua portuguesa das escolas é uma língua estrangeira, não é a língua do povo nem interage com ela criativamente”.
Para Souza Martins, a língua falada por esses estudantes se assemelharia a língua criada pelo confronto do tupi com o português de Portugal, na época da colonização, e que foi proibida pelo Rei no século XVIII, com intuito, segundo Souza Martins, de “dar o golpe de misericórdia nas culturas nativas e no hibridismo cultural nativo”. Os erros apontados por algum professor que teve acesso, também são “palavras e imagens postiças no mundo social do povo, na cultura em que efetivamente as pessoas vivem, em casa, na rua, no trabalho e na própria escola”.
A mídia trabalha o tempo político e o simbólico. A sociedade discute o que vê, o que lê e o que ouve, às vezes sem distinguir as distorções. A cultura é pensada na cidade letrada e o popular, iletrado, vai perdendo espaço. E o escondendo nos cantos da cidade ou do campo contra uma massa homogenia da cultura.
Talvez um outro olhar sobre o campo e a cidade, um olhar como o de Souza Martins pelas luzes da cidade, nos faça fazer uma reflexão sobre a mídia e a cultura, nossa cultura.
Talvez um mestre nos ajude a olhar, segundo Souza Martins, e ver que “que de certo modo falam palavras e resquícios sonoros do tupi. Uma língua dialetal legítima como outra qualquer, uma língua que só tem sentido falada e quase nenhum sentido escrita, porque é a língua do diálogo, só inteligível no mundo da reciprocidade”. Como algumas outras formas de culturas que encontramos nos cantos de nossas cidades e de nossos campos.
O que fica desses autores em nossa mente, e porque não o que fica da antropologia, é que os meios de comunicação de massa, trabalhado por Barbero, tiveram um papel decisivo no populismo da formação da cultura latino-americana, apesar de muitas vezes querem homogenizar o pensamento, tendo como exemplo positivo, a música negra que saiu dos morros e terreiros para conquistar o asfalto, bem como o sertanejo da moda de viola, que ganha o reforço do universitário e invade a cidade. A antropologia faz isso, mostra um pouco do sistema simbólico da cultura, os ritos, os mitos, a magia. O homo sapiens que com suas paixões e excessos mais se assemelham ao demens. O contraponto entre o racional e o imaginário. Nós e os outros.
Voltar o olhar para os bens simbólicos e a instituição imaginária da sociedade são o ponto para entender Jesus Martim-Barbero e José de Souza Martins.

Um comentário:

Eduardo Lohnhoff disse...

Oi, Kelly.

Interessante o seu texto, só gostaria de fazer uma correçao (desculpe se escrevo sem acentos, porém o teclado nao me está ajudando aqui na Bolivia). Marx nunca apresentou os camponeses como barbárie ou ignorância. Gostaria que sua professora de antrpologia me mostrasse um só texto em que utiliza tais argumentos. Parece que ela nunca leu Marx. Carlos Marx demonsntrou sim, que os camponeses sao um classe proprietaria, pequena, porém ligado a terra que possui. Poré. fora isso o texto é muito bom,. Quer um exemplo de cultura popular, o Santo Daime. Essa religiao nasceu no seio dos camponeses da Amazônia, e agora a burguesia há usa como desculpa para se drogar, porém sem a coerçao da sociedade. Algo como, usamos o daime ("nos drogamso"), mas é nossa religiao centenária. T+.