7 de jul. de 2008

Um pouco de devaneio a cerca de Michele Amoroso


Minha Neta,

Hoje, vejo dos autos anos que se passaram todo o mal que causei ... toda dor e sofrimento que passaram de geração em geração...
Fui um homem rude, grosseiro e áspero como a minha própria vida foi.
Me inquietou sua procura, seus apelos...
Como iria confessar o inconfessável? Como fazer você escutar as coisas horríveis e desprezíveis que fiz em vida? Como iria suporte seus olhos em meus olhos, novamente?
Será que você me entenderia? Mas que, besteira de um velho amargo, que morreu como viveu, na dor e na solidão.
Permiti que as primeiras verdades lhe fossem contadas... em vários fragmentos que logo se formaram imagens em sua cabeça, resta saber se você agüentará tudo o que seus ouvidos terão que ouvir.
Sei que apaguei todos os vestígios de minha passagem neste mundo, me fiz efêmero para fugir de mim mesmo e do que carrego em mim, talvez um dia e no dia em que tudo, você saber, possas me perdoar e me amar da mesma maneira que me vistes a primeira vez, em um retrato que foste enviado.
Eu o assim sou ou assim me fiz, a você resta o quebra-cabeça de muitas peças, que talvez a última só encontre nos últimos dias de sua vida.

Michele Amoroso
Italiano da Província di Avellino, Regione Campania, filho de Rafaele Amoroso e Carmela (?), vivi e morri em Ribeirão Preto-SP, aonde estou sepultado no único cemitério da região com o nome de Miguel Amoroso. Casei com a italiana de Villadose, Província di Rovigo, Regione Veneto Elisa Cecchetto, filha de Antonio Cecchetto e Maria Dezani, tivemos Aurília – que se batizou como Aurea, Michele que virou Miguel, Amedeo, Savóia que odiava seu nome e se registrou como Odete, Sophia, Adelaide que casou com o Oscar Lohnhoff, Salette que virou Celeste e quando Savóia casou foi carregada junto para que não ficasse a minha mercê e Raphael, o Rafaele ou Luto como era chamada, não casou, viveu sua vida parca e solitária, trabalhou com o Oscar na Relojoaria, foi morto no Rio de Janeiro e seu corpo descoberto tardiamente.Tive uma serralheria onde uma de minhas filhas perdeu o dedo, próximo a minha casa onde certa vez na hora do jantar vendo que uma de minhas filhas havia cortada seus cabelos, por ser moda, furei-lhe as mãos com uma agulha. Nunca registrei filho algum e dei uma filha como morta por ter fugido para casar e se livrar de mim. Matei-me com um disparo não suportando ser cuidado e nem tratado com piedade, da qual nunca demostrei em quanto vida.

Relembrando o dia 30/08/2006


Parafraseando Cazuza em Carta a Dani... escrevo em uma madrugada cinzenta e fria, trabalho para espantar a solidão e meus pensamentos.
Hoje, decidi conhecer meu irmão ... 22 anos nos separou. Estou mais leve, mais livre. Fiquei com medo. Mais que não tem medo de voar, de amar, de morrer, de ser feliz .... Sei que escrever é minha maneira de ficar pra sempre na terra. Ainda mais com a internet ... a palavras ganham projeção.. Amor ... Kelly
Falei com meu irmão de nos encontrarmos, marquei um dia, e ele não aparece ... fique frustada, chateada ... eu desejava isso ... o resgate de algo que sinto que foi me tirado. Não deu para fazer muito, porque entrei numa maratona de médico/trabalho, trabalho/médico, então, veio a viagem a Sampa para as provas da MBA, conheci o Verginio, a Sônia, fui a Mogi revi minha família, que delicia pode dizer isso, a tia Marilú, o tio Wilson, o Weber e conhecer a tia Odete, a Sônia e o Caio ... já contei isso, o chato disso é que enviei o e-mail para o Caio e ele não me respondeu ... paciência. Meu irmão tinha deixado um "scrap" no orkut, perguntando se estava zangada ... zangada eu não estava ... respondi que não e fiz mais liguei para ele no intervelo de 1 hora do meu almoço, verifiquei que ele estava bem, ponto. No final de semana tentei ligar para meu pai e não consegui, falei pro meu irmão, que disse que é assim mesmo, as vezes o sinal some da torre da Bolívia e os celulares ficam mudo ... tentei de novo ... consegui ... falei com meu pai ... antes quem atendeu foi o meu outro irmão o Roberto, porque liguei no celular dele, a conversa no mais ou menos - Oi, esse celular é do Roberto. Sim. Roberto é a Kelly. Oi, Kelly. Eu poderia falar com o pai. Pai é a Kelly - ai travou tudo, não sabia o que falar ... tinha várias coisas pra falar, pra dizer, para contar e não consegui ... talvez tenha bastado chama-lo de pai e ele ter me chamado de filha ... talvez as palavras saem melhor no papel do que através da fala. Então falei banalidade, perguntei como estava, o que tava fazendo, ele foi falando, reclamou da política do atual presidente, que esta tornando as coisas mais difíceis, que gostou do telefonema, que me AMAVA muito. Sei que quando desliguei chorei muito ... nesse momento tenho vontade de chorar - coisas de Kelly, psiciniana, humana, de carne e osso.
E fiquei com um idéia fixa ... falei para o Eduardo aparecer na UFMT, terça ou quinta, são os dias que pinto lá para tentar apreender inglês ... hoje, ele disse que apareceu .... não o reconheceria ... então, fique "matusquelando" o dia todo de ontem, se faria ou não o que acabei fazendo ... às vezes sou impulsiva ... mais ontem tinha tanto medo da rejeição .... de derepente ele estar fugindo de me ver ... não que ele tenha desmostrado isso nas várias horas que já ficamos dependurrado no telefone ... mais eram os meus medos, os meus fantasmas ... minha duvidas, insegurança .... decidi que iria durante o final do expediente, mais na hora que acabou minha aula ... fosse a tão frágil certeza ficando apenas a dúvida ... e que dúvida ... vi vários ônibus passarem na Av. Fernando Correa, em direção a Cel. Escolástico, meu destino, e não subi ... os colegas que nem sabiam o que eu iria fazer, só perguntaram se iria ser bom, disse que achava que sim, então falaram vai se não você vai se arrepender. Fui. Peguei um micro, pedir para parar em frente a loja Shopping Center da Criança ... fui até a Sorvetelle e comprei uma coca-cola, tremia dos pés a cabeça ... é agora, eu sabia que era por ali ... mais aonde não sabia, então liguei e o telefone só dava ocupado, uma, duas, três vezes ... terminei a coca-cola, e decidi será a última tentativa ... tava chateada ... chamou ... meu coração saiu pela boa ... um toque, dois toque ... - alô. Alô. Eduardo. Sim. É a Kelly. Minha irmã. Sim. Oi, eu ia te ligar, não deu para ir ainda, mais eu quero muito te conhecer. Bem eu estou na Sorvetelle, como faço para chegar ai. Ta vendo a rua a sua frente? Hum hum. Então é só pegar a primeira a direita. Me espera na frente. Com certeza.Talvez tenha sido a caminhada mais longa ... talvez não ... as pernas tremiam, eu estava suando frio ... cheguei perto ... muitos jovens, adolescentes mesmo, numa casa ... o diretório de campanha do PcdoB, era claro que eu não saberia entre eles quem seria o meu irmão .... a imagem que tinha dele era de um menininho de dois anos. Como tinha falado como eu estava, ele foi lá me estendeu a mão ... perguntei se poderia abraça-lo e nos abraçamos ... me apresentou para os amigos dele. Entrei na casa ... completamente 'zuada' pelos jovens ... quem tem adolescente deve saber o que acontece quando junta mais de um. Aí fomos para um lugar mais tranqüilo que pudéssemos conversar ... conversamos ... tentamos estabelecer um laço ... aquilo mais que o sangue .... como ontem, tentaremos manter um laço ... talvez um dia dizer aquele é meu irmão, venha acompanhado de mais paixão.
Assim, estou mais leve ... mais feliz ... assim, decide que se dane a "LER', quero propagar minha história, que ela tenha começo e meio ... e o fim seja que nem os contos de fada "E eles foram felizes para sempre" ... mesmo que o sempre seja pura ilusão de ótica ...
Termino parafraseando Cazuza em Ombra Mai Fu: As pessoas esquecem o que precisam fazer.... eu não posso me dar a esse luxo!!! Faço tudo caber nos meus próximos dias....Todas as idéias que eu terias, as pessoas que eu conheceria (...) estou grávido e não posso esperar. O tempo não para e a gente ainda passa correndo (...) Se eu pudesse guardava tudo numa garrafa e bebia de uma vez... Penso no que vai ficar de mim ... Eu... só sei insistir

Recordando o dia 21/06/2006

Mauricio Gonçalves de Moraes e Clotilde Pinheiro de Moraes
Meus avôs em sua boda de ouro
-*-
Hoje, na hora do almoço fui até a casa de minha avó, que saiu do hospital ontem, numa caminhada de 10 minutos, do meu serviço até lá.
Não é que eu não a visite sempre ... mais hoje ao chegar perto da casa dela .... casa antiga cuiabana, do tipo chegou na sala viu a cozinha ... constatei a mudança que ocorre em Cuiabá ... e que acabou de me atingir .... uma construtora estava demolindo uma construção antiga, a muito tempo abandonada, quase 10 anos, de uma distribuidora de bebidas ... e a casa da minha avó também pode ir no bolo ...
Não sou contra o progresso ....
Apenas ... me deu saudade da Rua Estevão de Mendonça de alguns anos atrás ... onde corriamos pela rua jogando bola, brincando de pegador, de dono da rua .... do beco em que brincavamos de roda, cirandinha, terezinha de jesus, flores brancas e tantas outras que a memoria falha ... das árvores.
há! que árvores, majestosas, flondosa ... onde subiamos para pegar manga, rosa, comum, borbom, espada ... doce ... saiamos lambuzados, melecados ...
há! e o pé de bocaiúva ... quem teve a coragem de cortá-lo! Ficava carregadinho e pulavamos o muro do 'seo' ... não lembro ... tanto tempo ... apanhavamos um cabo de vassoura de vasculhar ou um pau mais alto ... batiamos nos cachos e tum-tum-tum, caia pelo chão ... e corriamos atrás daquele 'chiclete' amarelo, mordendo e mordendo ... até acabar o caldo ... até não ter mais fibra e ficar só o coquinho ... ai deixavamos no sol para secar e quebravamos a casca para comer o coco ... hummmmm!!!
Onde foram parar o pé de pitomba?! Sentavamos no meio-fio com os cachos no colo, quebravamos a casca e chupavamos .... minha boca encheu d'água ...
O que fizeram com o pé de colônia ... que minha vó pegava as flores colocava no álcool e dava pra gente beber para acalmar qdo caíamos ou quando alguém ficava nervoso ...
Senti falta das toceras de capim-cidreira ... com que ela fazia o chá da manhã ... ai iamos comprar pão no 'seo' Ninito ... ele também não faz mais parte dessa história ... tem pra mais de um par de anos que ele se foi ... assim como meu avô .... era com ele que comiamos o quebra-torto, o desjejum ... uma farofa de ovo, carne, ou um escaldado ou um mexidinho - o caldo que sobrara na janta misturado com farinha.
No final da tarde sentavamos na muretinha ... ainda não tinha os prédios que hoje tem ... dava pra ver melhor o céu, as estrelas ...
Havia também uma enorme calçada de paralelepipedos ... onde corriamos, hoje ... lá só vi pó e barulho de coisa caindo ...
E passei a me perguntar por quanto tempo ainda terei memória pra lembrar das coisas de criança ... correndo no baixadão do quintal ... do chiqueiro do porco, que vovô criava para o natal ... do coqueiro que vovó pegava coco para colocar na cangica ... do pezinho de erva-doce que eu não entendia como pudesse virar os grãozinhos que vinham no saquinho ... que vovó adora, até hoje, fazer chazinho.
Resta-me juntar os pedaços da minha memória e gravar em minha mente e no coração.
E agradecer aquele pedacinho do bairro Quilombo, aquele trechinho da rua Estevão de Mendonça, aos casarões antigos, ultrapassados, com seus quintais enormes, com seus frutos saborosos, com suas ervas milagrosas, com sua terra pisoteada por pés descalço ou de havaiana, muito antes de havaiana virar moda e ser colorida, correndo desesperado pelos quintais, atrás de pipa, ou de bolita, pulando amaralinha, atrás de totó, ou das penosas que insistiam em correr atrás da gente ... ou a gente dos marimbondos ... e daqui a pouco todos na barra da saia da vovó querendo merendar ... chá mate e bolo de cinco minutos ou bolo de chuva ou queijo com goiabada .. podia ser também rapadura ... adorava a de leite ... mais a simples só com o caldo da cana também era muito bom ... ou doce de caju que vovó mesmo fazia no tacho, num fogão a lenha improvisado na área perto do tanque d'água ... podia ser de goiaba também ... onde ajudavamos a corta uma por uma, tirar o caroço, e ficavamos olhando bater no liquidificador para ficar amassadinho ... mais também gosta do doce de goiaba inteiro ... tem um nome ... mais não me lembro mais ...
Tinha também uma mesa lá fora que uma mangueira fazia sombra ... onde você labutava com peixe ... época de semana santa ... era uma fartura ... vovô ia pescar ... trazia feixe de peixe, cambada de pacu, lambari, pintado ... como gostavamos de pintado frito ... acompanhado de farinha de mandioca e banana da terra frita .... lembrando de banana ... vovó também cozinhava-as depois tirava a casca, partia no meio, passava manteiga e colocava no forno para ficar um pouquinho crocante ...
Tchau ... tempo de criança .. espero de encontrar alí, depois daquela curva ... depois daquela rua ... de preferencia em outra Rua Estevão de Mendonça, um pedaço do mato no coração do centro da cidade.

Falando com meu avô


Ei, o que faz atrás do espelho
enquanto reviro
prateleiras, caixas e papéis amarelos?
.
Ei, porque me olhas calado,
enquanto tento decifrar
o enigma de letras, silabas
e nomes desconexos?
.
Ei, seu olhar profundo,
faz transparecer
minhas dúvias,
receio e medo.
.
Ei, deixa que eu saiba,
dos seus desabores,
dos seus desencantos,
da sua vida e da morte.
.
Theobaldo Lohnhoff
filho de Oscar Löhnhoff e Adelaide Amoroso

3 de jul. de 2008

Poemas aos homens do nosso tempo



Enquanto faço o verso, tu decerto vives.
Trabalhas tua riqueza, e eu trabalho o sangue.
Dirás que sangue é o não teres teu ouro
E o poeta te diz: compra o teu tempo
Contempla o teu viver que corre, escuta
O teu ouro de dentro. É outro o amarelo que te falo.
Enquanto faço o verso, tu que não me lês
Sorria, se do meu verso ardente alguém te fala.
O ser poeta te sabe a ornamento, desconversas:
"Meu precioso tempo não pode ser perdido com os poetas".
Irmão do meu momento: quando eu morrer
Uma coisa infinita também morre. É difícil dizê-lo:
MORRE O AMOR DE UM POETA.
E isso é tanto, que o teu ouro não compra,
E tão raro, que o mínimo pedaço, de tão vasto
Não cabe no meu canto.


"Poemas aos homens do nosso tempo"
in Júbilo memória noviciado da paixão. SP: Massao Ohno. 1974.