12 de nov. de 2013

Brasão de Mato Grosso

 
 
Segundo Francisco A. Ferreira Mendes, em 1º de janeiro de 1727, na simplicidade da linguagem histórica setecentista, descritiva do alto de renovação da fundação da Vila Real do Bom Jesus de Cuiabá, ao erigir o Ouvidor Geral da Comarca de Paranaguá, Dr. Antônio Lanhas Álvares Peixoto que viera a Cuiabá na companhia de D. Rodrigo César de Menezes, Governador e Capitão General da Capitania de São Paulo, com objetivo de organizar a justiça da terra – o pelourinho - na atual Praça Conde de Azambuja (próxima a Av. Mato Grosso), declarou em nome D'El Rei “que fossem as armas de que usasse a vila, um estudo com o campo verde e um morro ou monte no meio, todo salpicado com folhetas e granitos de ouro e por timbre, em cima do escudo, uma fênix”
O atual Brasão de Armas de Mato Grosso foi instituído com a Lei nº 799, de 14/08/1918, pela Assembléia Legislativa e sancionada pelo Presidente do Estado, D. Francisco de Aquino Corrêa. Fora mantido o mesmo estilo colonial, trazendo o desenho em campo verde, um morro de ouro com dois cabeços, um braço armado a empunhar uma bandeira armada com a Cruz da Ordem de Cristo, tendo por timbre uma fênix, cinzelados entre dois ramos floridos de seringueira e de erva-mate, enlaçados na base por uma fita trazendo a legenda latina “Virtude Plus quam Auro”.
De acordo com Ferreira Mendes a fênix e o braço armado simbolizam a história de Mato Grosso com as penetrações bandeirantes e as moções de povoado e a cor azul inculca à nossa gente a elevação e a pureza dos nossos sentimentos de nacionalidade, unidos sob a inspiração da crença e da fé religiosa, que a cruz de Cristo simboliza na heráldica da gente brasileira. O novo guardando na sua contextura a forma do primitivo Brasão colonial encimado com a fênix representativa da imortalidade, expressa o respeito à tradição histórica, o ideal de união da gente matogrossense, que o lema “Pela virtude mais do que pelo ouro” valoriza, eleva, enaltece, glorifica e eterniza, na divisa que vai passando de geração a geração, como que perpetuando a virtude, a justiça, o trabalho, a dignidade e o amor, que vinculam o espírito dos maiores, muitos dos quais se sacrificaram na defesa do patrimônio que nos foi legado e que deveremos cultuar para consolidar a prática na união nacional.
Os Brasões de Armas têm também o sentido expressivo da nobreza do Estado no conjunto da nacionalidade.
FERREIRA MENDES, Francisco A. O Brasão de Armas de Mato Grosso. In Pereira Leite, Luis-Philippe. Monumentos de Mato Grosso. Cuiabá: Fundação Júlio Campos, 1994. p. 93-98.

28 de out. de 2013

Dissecando o Hino de Mato Grosso


Em 1983 pelo Decreto nº 208 (05/09/1983), o então governador de Mato Grosso Julio José de Campos, oficializava como Hino de Mato Grosso a letra e música de D. Francisco de Aquino Corrêa, musicado pelo Ten. Emílio Heiné, comandante da Banda da Polícia Militar. Escrito enquanto D. Aquino fora Presidente de Estado (1918-1922).
Segundo Raimundo Pombo Moreira da Cruz é difícil encontrar um Estado, que tenha a honra e a dita de possuir um Hino como o de Mato Grosso. O Arcebispo D. Francisco de Aquino Corrêa conseguiu num maravilhoso milagre literário, ofertar-nos esta primorosa grinalda, encaixilhando a geografia, a historia, os produtos, a riqueza, os habitantes, até o brasão do Estado, sem aquela tonalidade de bairrismo que enfeia composições idênticas.
Hino verso a verso
Limitando, qual novo colosso,
O Ocidente do imenso Brasil,
Eis aqui, sempre em flor, Mato Grosso,
Nosso berço glorioso e gentil!
Eis a terra das minas faiscantes,
Eldorado como outros não há,
Que o valor de imortais bandeirantes
Conquistou ao feroz Paiaguá!
De acordo com Raimundo Pombo Moreira Cruz a primeira estrofe situa geograficamente Mato Grosso, que para o Brasil imenso é seu limite no ocidente e para os matogrossense é o gentil berço, sempre coberto de flores, repleto de glórias e dadivoso de carinhos. O entusiasmo leva a cantar as riquezas da terra. Com uma homenagem ao valor imortal do bandeirante paulista menciona a grande tribo dos Paiaguás, cuja ferocidade indomável até então, dos índios cavaleiros, foi conquistada e transformada num congraçamento de compreensão e amor.
Salve, terra de amor,
Terra de ouro,
Que sonhara Moreira Cabral!
Chova o céu
Dos seus dons o tesouro
Sobre ti, bela terra natal!
No Estribilho, segundo Moreira Cruz, Dom Aquino canta o amor à terra de mistura com o ouro. Um sonho do herói descobridor, Paschoal Moreira Cabral, se realiza. Então é feita uma prece aos céus, para que continue a derramar sobre ela, a generosa chuva dos tesouros de seus presentes.
Terra noiva do Sol, linda terra
A quem lá, do teu céu todo azul,
Beija, ardente, o astro louro na serra,
E abençoa o Cruzeiros do Sul!
No teu verde planalto escampado,
E nos teus pantanais como o mar,
Vive, solto, aos milhões, o teu gado,
Em mimosas pastagens sem par!
Na segunda estrofe é cantada a beleza sem igual. A linda terra, principalmente para aquele que tem a dita de colher na serra o ardente beijo do “astro louro”. E então, à luz desse luar, aos beijos desse noivo ciumento, nesse céu sem nuvens, os pantanais se desdobram na grandeza do oceano, mas um mar marchetado de milhões de gado, que se farta nas mimosas pastagens opulenta de beleza e exuberância.
Hévea fina, erva-mate preciosa,
Palmas mil são teus ricos florões;
E da fauna e da flora o índio goza
A opulência em teus virgens sertões!
O diamante sorri nas grupiaras
Dos teus rios que jorram, a flux.
A hulha branca das águas tão claras,
Em cascatas de força e de luz!
As demais riquezas são enumeradas, na terceira estrofe, as seringueiras, nativas, de primeira, a hévea fina enriquecendo as florestas, o precioso mate, também nativo, as palmeiras, aos milhares, ornando como florão genial os vales, os montes, invadindo as planícies. O índio continua aproveitando das maravilhas da variegada flora, rica em medicinas e da fartura de caça, até a opulência, nos sertões onde não penetrou ainda a civilização. O sorriso do diamante tão abundante, como os dentes no abrir dos lábios, ao garimpeiro feliz, que também sorri. Eis aqui a “hulha branca”, cachoeiras que se multiplicam por todo o Estado, potencial de força e de luz.
Dos teus bravos a glória se expande
De Dourados até Corumbá;
O ouro deu-te renome tão grande,
Porém mais nosso amor te dará!
Ouve, pois, nossas juras solenes
De fazermos, em paz e união,
Teu progresso imortal como a fênix
Que ainda timbra o teu nobre brasão!
Na quarta estrofe de acordo com Moreira Cruz é a vez da história: os heróis, de Dourados, Coimbra, Laguna, até Corumbá... mas embora heróico, é sempre triste o sangue derramado, que não detém e volta novamente ao ouro, às toneladas de ouro que deram tal renome a esta terra. Conclama seus filhos à união e a paz, não para um progresso qualquer, mas para um progresso imortal, lembrado pelo nobre brasão, onde a fênix, ave mitológica, se deixa queimar, apra e suas cinzas, de seu sacrifico, renascer rejuvenescida, para novas lutas, para novas vitórias, para uma nova vida, que não terá fim porque se abre para a eternidade.
Em 1983 o então governador Júlio José de Campos mandou publicar um Decreto de criava a Comissão Especial para proceder aos estudos sobre o Hino de Mato Grosso, composto por Adauto Alencar, Archimedes Pereira Lima, Marília Beatriz Figueiredo Leite, Lídio Modesto da Silva e Pedro Rocha Jucá. A comissão apresentou relatório favorável à oficialização do Hino de Mato Grosso, de autoria de D. Francisco de Aquino Corrêa e Emílio Heiné.
Segundo a Comissão o poema foi composto em oitavas (oito versos em cada estrofe) em métrica de nove sílabas poéticas, de sabor clássico. O corpo do poema conta 36 versos divididos em quatro estrofes e o estribilho em uma estrofe de quatro versos. A Comissão manteve a letra original em sua extensão e conteúdo. Sendo o poema desestruturado, sem sofrer qualquer alteração em seu conteúdo. As quatro estrofes originárias de oito versos foram dividas em oito estrofes de quatro versos e a estrofe do estribilho, de quatro versos passou para seis versos alterando-se, no entanto, a métrica, ficou estabelecida: o 1º verso com seis sílabas; o 2º com três sílabas; o 3º com nove silabas; o 4º com três sílabas; o 5º com seis sílabas e o sexto com nove sílabas.
De acordo com a comissão a idéia intrínseca do poema evoca referências clássicas, históricas e fatores ambientais e telúricos regionais.
Segundo a Comissão o termo “Qual novo colosso”, tem o efeito comparativo entre Mato Grosso e o colosso de Rodes, uma das sete maravilhas do mundo antigo. Já em outro trecho “Teu progresso imortal como a fênix/que ainda timbra o teu nobre brasão”, trás referencias mitológicas, fazendo alusão ao pássaro fênix, que, segundo a mitologia egípcia, depois de viver muitos séculos, entrava na fogueira, em suicídio espontâneo e depois renascia das próprias cinzas. Símbolo que se encontra também no Brasão de Mato Grosso, oficializado em 14/08/1918 conforme Decreto 799.
Tanto no Hino quanto no Brasão, ainda se faz referencia a duas figuras botânicas: um ramo de seringueira e outro de erva mate. A riqueza mineral está presente no ouro e no diamante, a pecuária pelas paragens pantaneiras, povoadas de gado vacum e cavalar.
Do índio da civilização de Mato Grosso tem duas figuras antagônicas: o bandeirante e o índio, responsáveis pelo aumento da população no caldeamento de povo e raça.
No trecho “Dos teus bravos a glória se expande/de Dourados até Corumbá”, o autor, de acordo com a Comissão, decanta a gloria dos filhos de Mato Grosso, como Antônio João Ribeiro, nascido em Poconé em 24/11/1820 que tombou heroicamente em 29/11/1864 quando comandava a Colônia Militar de Dourados, como Tenente do Exército; Antonio Maria Coelho, nascido em Cuiabá em 8/9/1827 e falecido em Corumbá em 29/08/1894 na Retomada de Corumbá. Tendo sido o primeiro governador de Mato Grosso na fase republicana e agraciada pelo Imperador D. Pedro II com o título de nobreza de Barão de Amambaí.
PEREIRA LEITE, Luis-Philippe. Monumentos de Mato Grosso. 75º do IHGMT. Cuiabá: Fundação Júlio Campos, 1994.

19 de out. de 2013

Poema Maria Taquara por Agenor Ferreira Leão




Personagem Folcórico: Maria Taquara


Maria Taquara - Escultura de Rosylene Pinto
da Fuzuê da Arte
 
Segundo Octayde Jorge da Silva (1994:46-48) falando do tempo em que trabalhava no antigo 16º BC (também conhecido como Batalhão dos Cuiabanos), onde existiam poucas residências além do Quartel, havia uma estrada carroçável, a esquerda, sendo quase um atalho, para chegar ao “Campo de Aviação”, assim era chamado o aeroporto, onde aterravam e decolavam, do “cerradão” cheio de buracos e tropeços e às vezes, mato ralo, os possantes, corajosos e desbravadores DC3, da Cruzeiro, da Panair, da Nacional, da Viabrás. Havia também um cavaleiro dessa estradinha, Maria Taquara, tinha uma tapera por ali. Figura folclórica, alta magra, mais “empinada” que esguia, vestindo “camiseta de malandro” e calças compridas de homem. Maria Taquara ou Maria-Homem era figura-susto das esquinas cuiabanas. Ficava imóvel sempre, olhar no infinito, despercebido do que se passava a derrotar, só uma coisa lhe perturbava o comportamento de quem está num posto de observação: o grito “Maria Taquara”. Ao qual respondia com um palavrão ou uma pedrada. Depois, o desequilíbrio mental trouxe-lhe também certa apatia pela comunicação e ela foi mais esfinge do que gente. Tanto assim que, folcloricamente virou “estátua”, por obra e arte de uma invenção.
Obra do Artista Aroldo Civis Tenuta
Pelas mãos de Aroldo Civis Tenuta, filho de Antonio Tenuta e Palmyra Palma Tenuta, forjou em ferro a escultura de uma lavadeira – Maria Taquara – que trazia de sua lembrança de menino passada em Cuiabá. Mede 4,20 de altura e pesa 450 quilos, doada pelo artista à cidade de Cuiabá em memória de seus pais, localiza-se na Ladeira da Igreja do Bom Despacho, próximo ao córrego da Prainha, que corre já canalizado para o Rio Cuiabá, abaixo da via Prainha ou Ten. Cel. Duarte, praça que também leva o nome de Maria Taquara.
Fonte: PEREIRA LEITE, Luis-Philippe. Monumentos de Mato Grosso. 75º do IHGMT. Cuiabá: Fundação Júlio Campos, 1994.