11 de ago. de 2016

Um carta... um caminho... muitas perguntas

Em 2006, após a Paulina Itano me enviar as cópias das cartas que as tias alemães enviaram ao tio Dalilo, alguns colisteiros me ajudaram em sua tradução. Eram quatro arquivos.

A primeira parte foi traduzido, muito gentilmente, pela Brigitte Brandenburg, de Joinville(SC):

Bisavós de Dalilo: Theodor Carl Löhnhoff, também portava o nome de Wilkowsky, sendoo desconhecidos os locais de nascimento e falecimento. Era casado com Marie Sägel, nascida em Kappeln, Schleswig-Holstein. Faleceu com 73 anos, de câncer no fígado, na casa dos avós de Dalilo. Seus pais tinham um Hotel quando ela se casou e o qual ela herdou. Ela era rica mas o marido gastou todo o dinheiro. Ele era mecânico mas tinha uma segunda profissão (ocupação) atuando como cantor, barítono contrabaixo (=?).
 Eles tiveram cinco filhos:
1-Carl Löhnhoff, músico, faleceu na América, casou em Köln (Colônia) com uma mulher surda-muda com a qual teve dois filhos. A filha estudou música e o filho era Km...tischler (carpinteiro ?) (todos falecidos).
2-Adolf Löhnhof, gerente de Hotel em Glücksburg, Schleswig-Holstein. Teve apenas uma filha, casada em Hamburg. Tiveram três filhos que moram em Hamburg e Bremen e chamam-se Darjes (obs.: deve ser o sobrenome do marido).
3-Helene Löhnhoff, não casada, embora tenha tido quatro filhos, todos falecidos. Casou bem mais tarde com um senhor de nome Heinke.
4 –Um filho, que com 18 anos foi esfaqueado em um salão de baile.
5 –Theodor Carl Wilhelm Wilkowsky, chamado Löhnhoff, avô de Dalilo. Faleceu com 59 anos em Berlin, de ataque cardíaco. Casou com Friedericke Poppe, avó de Dalilo. Tinham ambos 21 anos quando se casaram. Tiveram oito filhos, sendo que por duas vezes tiverem gêmeos que faleceram ao nascer. A avó Friedericke acidentou-se em Berlin .........

Ela também fez a tradução da segunda parte:

Filhos de ambos:
1 – Theodor Löhnhoff – pai de Dalilo
2 – Juliane Löhnhoff – faleceu com 10 anos de idade. Caiu de uma escada e passou a padecer de doença na coluna.
3 – Richard – 25 anos; faleceu cedo, antes de ser chamado (pode estar implícita morte por suicídio-apenas suposição).
4 – Paula Löhnhoff-Hoffmann – um filho Jens. Depois de Paula faleceram três filhos ainda muito jovens, sendo que a última foi:
5 – Hertha Dorothea Juliane Wilkowsky “gennant” (sobrenome) Löhnhoff – nascida em 21 de julho de 1890. Casou com Paul Bloch + (falecido). Sem filhos.

A Brigitte ainda me ajudou em algumas suposições que depois encontrei alguns respaldo:
1º - O que é estranho é que alguns membros da família portam o sobrenome Wilkowsky gennant(-) Lohnhoff e outros apenas Löhnhoff . Apesar de haver feito uma pesquisa familiar mais ampla não pude encontrar respostas para a história do nome (sobrenome). Talvez Löhnhoff fosse o nome do Teatro (ou nome teatral) como também se observa em Hertha. 
2º - O bisavô Wilkowsky-Löhnhoff. teve que abandonar Schleswig-Holstein devido a intrigas políticas. 
3º - A bisavó, empobrecida, ficou sozinha com as crianças e nunca mais ouvimos algo sobre (o paradeiro de) seu marido.
4º - No local onde o pai do pai de Dalilo primeiro procurou pelo registro desaparecido do seu nascimento, consta nos papéis “ilegítimo”. É possível que seja um proprietário de terras, O Barão Von Hove, em Gelting, em cuja propriedade morou a bisavó, o pai ilegítimo de Theodor Wilkowsky-Löhnhoff . Mas isto eu também não pude esclarecer (ou encontrar respostas). Para o passaporte de Hitler era suficiente constar que o até os bisavós não houvesse judeu (na família).

Na terceira parte a Brigitte traduziu a ascendência materna de Theodor:

Ascendência materna do pai
Heinrich Poppe de Breiholz, em Rendsburg, Schleswig-Holstein, Alemanha.
 Todos antepassados de Breiholz, até 1726, eram agricultores, artesãos e pintores.
Heinrich Poppe, o bisavô de Dalilo era mestre em pintura e tinha também um comércio de tapeçaria. Construiu, em Rendsburg, quatro casas, as quais ainda hoje lá permanecem. Ele casou-se duas vezes, sendo que com a primeira esposa teve três filhos, dos quais apenas a mais velha chegou à idade adulta. A esposa faleceu devido a uma epidemia de cólera. Ele casou-se novamente com a cunhada, irmã de sua primeira esposa: Dorothea Poppe nascida Burchardi (bisavó). Com esta ele teve 15 filhos, dos quais sete faleceram quando ainda bem pequenos.
1-Wilhermine – filha da primeira esposa (falecida)
2-Heinrich Poppe – faleceu com cerca de 60 anos de idade, de doença nos rins, e não foi casado.
3-Friedericke Poppe – nascida em 2 de agosto de 1854, casou com Theodor Carl Wilhelm Lohnhoff, nascido em 2 de março de 1854 (avós de Dalilo). Tiveram oito filhos.
4 –Christian Poppe – casado, três filhos, faleceu com 38 anos. A primeira esposa tinha T.B.(o que será isto?).Uma filha ainda vive.
5 – Margarete Poppe – gêmea de Christian. Viveu até os 96 anos de idade. Casou com 55 anos com Fritz Dahl. Viúva.
      6 – Hans Poppe – não foi casado, faleceu com 56 anos de idade.
7 – Carl Poppe – casado, dois filhos pereceram na guerra, o terceiro filho vive em Frankfurt am Main, atualmente muito doente, é diabético, perdeu uma perna, tem dois filhos.
      8 – Magda Poppe – 90 anos, vive em um ancionato em Rendsburg.

A bisavó Dorothea Poppe faleceu de câncer no estômago, com 63 anos de idade. O bisavô Heinrich Poppe faleceu com 95 anos, de velhice, em Rendsburg.

Com ajuda de outros colisteiros, TB seria tuberculose.

Na última parte, segue a tradução da Brigitte:
Dois de seus filhos foram mestres em pitura (ou pintores de parede), um tinha um comércio de secos e molhados; outro, Carl, tinha duas casas comerciais de peixe (peixarias) em Frankfurt. Ele faleceu com 81 anos, de gota. O seu filho, ainda vivo, teve dois comércios de peixe.
 O bisavô, Heinrich Poppe, não era apenas pintor de casas, mas também pintava quadros, dos quais vários ainda existem. Durante toda sua vida, costumava acordar às quatro horas da manhã, ia pescar, e às seis da manhã já estava no comércio. Apesar dos muitos filhos, ele faleceu como um homem bem abastado.
 Nenhum de seus filhos deixou de seguir sua determinação (é preciso verificar esta frase-há uma palavra ilegível), ele foi um exemplo para todos, invariavelmente disposto e ativo, cheio de Humor. Aposentou-se (verificar a palavra) com 80 anos com muita lucidez. Era muito apegado a animais, sendo que tinha um grande viveiro com mais de 50 canários. Os dois filhos de Carl Poppe que pereceram na guerra trabalhavam no comércio de peixe. Um deles herdou o comércio em Frankfurt. Após sua morte na guerra, sua esposa passou a dirigí-lo (administrar o negócio) juntamente com seu filho Hans. Então ela se desfez de seu comércio (confirmar esta parte) e comprou para si um boa casa, onde ambos moravam juntos. Hans perdeu sua primeira esposa, de 26 anos. Ele se casará novamente em breve (verficar). Sua irmã é casada e tem uma filha. Sua mãe, Gertrud Poppe, mora em Frankfurt e está com 65 anos de idade.
 Assim segue a família Poppe.
  Temos um brazão na família Poppe que se originou no século 17.

A Brigitte finaliza com “e assim foi concluída a minha pesquisa”. Me ajudou muito com a tradução e com as suposições. 
Pude abrir alguns leques. Ela ainda me brindou com mais algumas explicações sobre os sobrenomes juntados com hífen:
Quanto ao sobrenome Wilkowsky-Lohnhoff, que a princípio não entendi, lembrei-me de um caso de um família de imigrantes de Joinville. Também usavam sobrenome composto, Rusch-Ahlandt, mas não era o caso de todos os membros dos descendentes. Encontrei certa vez uma observação do pastor, devido ao casamento de um filho imigrante, no qual observava que devido ao fato dos pais não serem casados, quando do batismo do filho, este recebeu apenas o nome de Rusch. Pouco mais tarde, os pais se casaram, fato que fez com que ao nome do filho fosse adicionado o Ahland, ficando Rusch-Ahlandt. É só um exemplo e talvez leve a outras pesquisas a respeito. Cada região ou Estado Alemão da época tinha diferentes procedimentos para com nomes de famílias ou transferência de sobrenome. Famílias alemãs não adotavam nomes duplos (da mãe e do pai); em descendentes de alemães, ter nome da mãe é recente no Brasil.
Quanto aos dados de família para passaporte, no período nazista, é interessante observar no texto de 1.2 que havia necessidade de pesquisa genealógica para comprovar a não existência de ascendência judia. Observei isto também em dados de um pastor alemão no Brasil, em carta para o consulado, durante o período da guerra. Mas não entendia para que desfiar a árvore genealógica para encaminhamento consular. Mais tarde, li a respeito desta exigência. 

A Elisabeth Egarter, colisteira de Minas Gerais, também ajudou com a revisão:

Aquele "gennant" pode ter o sentido de conhecido como, chamado de. Acontecia e hoje ainda acontece em alguns casos em que a pessoa é mais conhecida por um sobrenome que não é o seu. Por exemplo um homem que se casa com uma mulher muito mais conhecida. Pode ser um nome teatral, como você sugeriu. Muitas vezes este nome mais conhecido ou mais importante é adotado.


Alguns anos mais tarde, e muitos mistérios a serem desvendados, me deparo com o sobrenome Löhnhoff sendo utilizado pelo marido da Hertha. E encontro uma pequena pista de eles serem judeus. Ou seria uma artimanha para fugir da Alemanha para os Estados Unidos. Muitas perguntas e poucas respostas até hoje.

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