Em visita escolar a
Editora da Universidade Federal de Mato Grosso, EdUFMT, minha filha ganhou o
livro Desmontando os Quadrinhos de Gabriel Mattos (1). Alguns anos depois
me pego a lê-lo.
Já no prefácio a prof.
Dra. Lucia Helena Possari (2), nos diz que o social, o humano, o prazer nem
sempre estão previstos nos trabalhos de tema científicos e que Mattos conseguiu
'arder o poeta, o quadrinista, o arquiteto, o mestre em educação'.
Mattos baseou sua
dissertação e posterior livro na linha de pensamento de Henry Giroux (3), onde um dos pontos diz que a
história
não diz respeito simplesmente a fatos, datas e eventos. Ela diz respeito também
a examinar criticamente nossa própria localização histórica em meio a relação
de poder, privilégio ou subordinação.
A dissertação, assim
como o livro, ajuda a perceber sua relação com a história.
Na década de 1960,
segundo Mattos, o quadrinho fica mais crítico, e o Pasquim
(4), liderados por Jaguar, Henfil
e Ziraldo, assumem um
lugar de destaque. Dessa forma, em abril de 1988, a revista Nova Escola dedicou
a matéria de capa a esse assunto. Inclusive, as primeiras versões dos
Parâmetros Curriculares Nacional(PCN), abriu o leque dos meios de comunicação
de massa com a educação de 5ª a 8ª séries, tanto nos fascículos de língua
portuguesa e história quantos nos temas transversais, passando a levar a sério
um olhar mais crítico em relação aos meios de comunicação.
Em linhas gerais, as
Histórias em Quadrinhos (Hqs) foram gestata no segundo
período do século XIX como entretenimento e nos Estados Unidos, possuíam o nome
de Comics. Sendo seu marco, em 1895,
com Yellow Kids de Richard Oetcout, por incorporar,
segundo Mattos, o código verbal.
http://www.tvsinopse.kinghost.net/art/y/yellow-kid.htm
Já em terras brazilis, o
dia do quadrinho é
comemorado em 30 de janeiro, sendo também o dia do aniversário do pioneiro
ítalo-brasileiro Angelo Agostini,
que em 1869 no Jornal Vida Fluminense publicou
As Aventuras de Nhô Quim. Por
aqui já circulava o Suplemento Juvenil, do jornal carioca A Nação, que era dirigida por Adolfo Aizem, e trazia os heróis
americanos: Flash Gordon, Jim das Selvas, Mandrake, Dick Tracy, Terry e os Piratas etc. Sendo que em 1938, Joe Shuster (desenho) e Jerry Siegel (roteiro) vão criar, de
acordo com Mattos, aquele que voa e não é pássaro e nem avião: Superman.
Nascendo, então, o conceito de Super-Herói.
http://onordeste.com/onordeste/enciclopediaNordeste/index.php?titulo=Adolfo+Aizen<r=a&id_perso=5672
http://g1.globo.com/pop-arte/noticia/2011/06/em-nova-fase-superman-aposenta-cueca-vermelha-sobre-calca.html - Capa da primeira revista do Superman, de junho de 1939, ao lado de ilustração que estampará a primeira página da nova HQ do herói, que será lançada em setembro nos EUA (Foto: Reprodução e AP)
http://g1.globo.com/pop-arte/noticia/2011/06/em-nova-fase-superman-aposenta-cueca-vermelha-sobre-calca.html -
De safra brasileira,
temos Réco-Réco, Bolão e Azeitona e Peteleco, de Luís Sá; Chico Muque, o Barão
de Rapapé e Kaximbown, de Max Yantok; Bolinha e Bolonha, de Nimo Borges;
Capitão Atlas, de Fernando Dias da Silva e
André Le Blanc; O Vingador, Mário de Moraes; Jeronimo, Herói do Sertão, de
Edmundo Rodrigues.
http://mundoquadrinhos.blogspot.com.br/2007/05/luiz-s-criador-do-bolo-reco-reco-e.html
Em 1951, durante o
pós-guerra, no Centro Cultural e Progresso, em São Paulo (18/06), aconteceu a
1ª Exposição Internacional de Histórias em Quadrinhos,
montada por Jayme Cortez, Alvaro de Moya, Sillas Roberg, Miguel Penteado e
Reynaldo de Oliveira, com objetivo de promoverem debates sobre o assunto e
rebater as restrições de má influência dos quadrinhos para
as crianças.
https://planetamongo.wordpress.com/2011/06/18/a-primeira-a-gente-nunca-esquece/
Nesse período, Victor
Civita, fundador da Editora Abril Cultural, passou a publicar os HQ da Walt
Diney Productions. Lançando o primeiro número do O Pato Donald em julho de
1950. Juntamente com Abril, a Ebal (Editora Brasil América Ltda, de Adolfo
Aizen, vai lançar a DC e Marvel; e a Rio Gráfica Editora, de Roberto Marinho,
constituirão as maiores editoras de HQ do Brasil.
Durante a década de 60,
há um momento de valorização dos quadrinhos. Na América
Latina, vai surgir Mafalda, do argentino Quino (Joaquim Salvador Llavado). No
Brasil, Ziraldo, vai construir um universo tipicamente brasileiro, com
personagens folclóricos, em Pererê. Mauricio de Souza, lança Bidu, sendo que em
1970 lança a Turma da Monica pela Editora Abril.
Já no interior do Brasil,
lá pelas bandas do Centro Oeste, segundo Mattos, uma das primeiras tentativas
de se produzirem HQ foi em 1969, durante as comemorações dos 250 anos de
Cuiabá, quando Moacyr Freitas começa o projeto da História Ilustrada de Mato
Grosso, desde o descobrimento do Brasil até a data atual.
http://arquitetomoacyrfreitas.blogspot.com.br/
Daí em 1984, jornal O
Estado de Mato Grosso publica Keno Bill, de Wander Antunes, uma história de
faroeste. Em 1989 sai os primeiros números de Gonçalinho, um dos mais conhecidos
personagens. Em 1988 saem as primeiras ilustrações de Moacyr Freitas, na Agenda
Cuiabana, produzida pelo NDIHR, junto com dois artigos, um do próprio Moacyr
Freitas e a outra, Memória Cuiabana de Gabriel de Mattos, no Jornal Croqui da
Associação Prof. do Arquitetos/MT, n. 3, junho-julho/88 e na Viver Melhor,
Cuiabá, n. 02 Set/88.
http://wanderantunes.blogspot.com.br/
(pela que lá não tem nenhum ilustração em referência aos seus trabalhos em Mato
Grosso)
O jornal A Gazeta, em
1990, voltada para o público regional, passa a publicar algumas tirinhas, como
Mujo e Carol de Joaquim Giovani de Souza; Turma do Pantanal, de Valdemar de
Souza; Cachorrão, de Julio Cesar Cavalheiro.
http://www.diariodecuiaba.com.br/detalhe.php?cod=103177
Em 1992, no Shopping
Center Goiabeiras, em Cuiabá, aconteceu a 1ª Exposição de Quadrinhos
Cuiabanos, tendo o lançamento da Revista do Gonçalinho. É lançada a base
da revista Vôte!, que trouxe a primeira publicação da História Ilustrada de
Mato Grosso, de Moacyr Freitas; a HQ de Ficção Ouro!, de Gabriel Mattos; e
Chapada dos Guimarães - Estranhas Criaturas, de Joaquim Giovani de Souza. No
final do ano saiu a Pato Wood da Ânima Produções, de distribuição dirigida à
rede de ensino de 1º grau, com argumentos e desenhos, Kleber Simioni e Marco A.
Raimundo; arte final e letras, Rodolfo Scheheler; e coordenação de Cândida B.
Haesbart.
Em 1993, Gonçalinho
ganha as telinhas, e vira garoto propaganda do, extinto, Supermercado Modelo.
Vamos ter também, Turma da Batalha, de Wander Antunes; e Garota Pantanal, de
Generino Oliveira Rocha. O jornal O Estado de Mato Grosso abre espaço diário
para as tirinhas, projeto coordenado pela ZHQ projetos e Produções, dos irmãos
Gabriel e Aclyse de Mattos.
http://generino.blogspot.com.br/2010/05/personagens-do-cartunista-generino_27.html
Em comemoração ao dia
das crianças, 1994, a Folha do Estado lança à Folhinha da Criança, com
personagens de Wander Antunes; e o Diário de Cuiabá, lança o Diarinho. Já em
1997, a Folha do Estado sede suas páginas para o grupo Cosmic que vai publicar
O Espaço Cosmic. De acordo com Mattos, em Mato Grosso, as HQ começam a ocupar
um espaço importante, definindo um caminho extremamente consciente da realidade
local e expressando uma preocupação de se criar sua própria temática e
estética. E dessa forma ela contribui didaticamente, desempenhando o papel de
ensinar alguma coisa, de forma mais sutil, em linguagem leve.
http://www.cenariomt.com.br/noticia/518874/historia-de-rondon-sera-contada-em-quadrinhos-de-mauricio-de-sousa.html
Acredito que essa forma
poderia estar mais presente nas escolas. Qual aluno de escolas pública ou
particular, de ensino fundamental ou médio, chegaram a vislumbrar os Annaes da
Camara de Vila Bela da Santíssima Trindade, por Joseph Barbosa de Sá; o
material iconográfico da Expedição Langsdorff; Datas Matogrossenses, de Estevão
de Mendonça? Quem consegue responder sobre, Luis-Phillipe Pereira Leite, Lenine
de Campos Póvoas, Rubens de Mendonça, Virgílio Correa Filho e Coronel Octayde?
Talvez se tornássemos os
assuntos mais leves... a cultura matogrossense seria mais consumida.
(1) Mattos, Gabriel. Desmontando os Quadrinhos: histórias em quadrinhos, educação e regionalidade. Cuiabá/MT: Carlini & Caniato: EdUfmt, 2009.
(2) Dra. Lúcia Helena Vendrúsculo Possari, possui graduação em Letras pela Faculdade de Ciências e Letras de Barão de Mauá (1975), mestrado em Letras pela Fafil (1979) e doutorado em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1996). Atualmente é professora e Coordena a Editora da Universidade Federal de Mato Grosso.
(3) De acordo com o site http://www.portaleducacao.com.br, foi um dos fundadores da pedagogia crítica nos Estados Unidos, além, de pioneiro nos estudos voltados para a cultura, jovens, ensino superior e público, meios de comunicação e teoria crítica. Propôs reflexões sobre as teorias educacionais, escola e sobre os professores e seu papel no processo ensino-aprendizagem, bem como a influência dos mesmos nos alunos
(4) Imaginado como um jornal do bairro de Ipanema, do Rio de Janeiro, de acordo com o https://caminhosdojornalismo.wordpress.com, Era o jornal “do contra”. Deixou de lado toda a auto-censura: palavrões, corruptelas e outros termos que até aquele momento nem sonhavam em entrear dentro de um jornal ficavam gravados em entrevistas e textos históricos
Para ler mais:
http://www.ufmt.br/ufmt/unidade/userfiles/publicacoes/a7279d162a31b4cb24d8793b1eef8c02.pdf
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