28 de out. de 2013

Dissecando o Hino de Mato Grosso


Em 1983 pelo Decreto nº 208 (05/09/1983), o então governador de Mato Grosso Julio José de Campos, oficializava como Hino de Mato Grosso a letra e música de D. Francisco de Aquino Corrêa, musicado pelo Ten. Emílio Heiné, comandante da Banda da Polícia Militar. Escrito enquanto D. Aquino fora Presidente de Estado (1918-1922).
Segundo Raimundo Pombo Moreira da Cruz é difícil encontrar um Estado, que tenha a honra e a dita de possuir um Hino como o de Mato Grosso. O Arcebispo D. Francisco de Aquino Corrêa conseguiu num maravilhoso milagre literário, ofertar-nos esta primorosa grinalda, encaixilhando a geografia, a historia, os produtos, a riqueza, os habitantes, até o brasão do Estado, sem aquela tonalidade de bairrismo que enfeia composições idênticas.
Hino verso a verso
Limitando, qual novo colosso,
O Ocidente do imenso Brasil,
Eis aqui, sempre em flor, Mato Grosso,
Nosso berço glorioso e gentil!
Eis a terra das minas faiscantes,
Eldorado como outros não há,
Que o valor de imortais bandeirantes
Conquistou ao feroz Paiaguá!
De acordo com Raimundo Pombo Moreira Cruz a primeira estrofe situa geograficamente Mato Grosso, que para o Brasil imenso é seu limite no ocidente e para os matogrossense é o gentil berço, sempre coberto de flores, repleto de glórias e dadivoso de carinhos. O entusiasmo leva a cantar as riquezas da terra. Com uma homenagem ao valor imortal do bandeirante paulista menciona a grande tribo dos Paiaguás, cuja ferocidade indomável até então, dos índios cavaleiros, foi conquistada e transformada num congraçamento de compreensão e amor.
Salve, terra de amor,
Terra de ouro,
Que sonhara Moreira Cabral!
Chova o céu
Dos seus dons o tesouro
Sobre ti, bela terra natal!
No Estribilho, segundo Moreira Cruz, Dom Aquino canta o amor à terra de mistura com o ouro. Um sonho do herói descobridor, Paschoal Moreira Cabral, se realiza. Então é feita uma prece aos céus, para que continue a derramar sobre ela, a generosa chuva dos tesouros de seus presentes.
Terra noiva do Sol, linda terra
A quem lá, do teu céu todo azul,
Beija, ardente, o astro louro na serra,
E abençoa o Cruzeiros do Sul!
No teu verde planalto escampado,
E nos teus pantanais como o mar,
Vive, solto, aos milhões, o teu gado,
Em mimosas pastagens sem par!
Na segunda estrofe é cantada a beleza sem igual. A linda terra, principalmente para aquele que tem a dita de colher na serra o ardente beijo do “astro louro”. E então, à luz desse luar, aos beijos desse noivo ciumento, nesse céu sem nuvens, os pantanais se desdobram na grandeza do oceano, mas um mar marchetado de milhões de gado, que se farta nas mimosas pastagens opulenta de beleza e exuberância.
Hévea fina, erva-mate preciosa,
Palmas mil são teus ricos florões;
E da fauna e da flora o índio goza
A opulência em teus virgens sertões!
O diamante sorri nas grupiaras
Dos teus rios que jorram, a flux.
A hulha branca das águas tão claras,
Em cascatas de força e de luz!
As demais riquezas são enumeradas, na terceira estrofe, as seringueiras, nativas, de primeira, a hévea fina enriquecendo as florestas, o precioso mate, também nativo, as palmeiras, aos milhares, ornando como florão genial os vales, os montes, invadindo as planícies. O índio continua aproveitando das maravilhas da variegada flora, rica em medicinas e da fartura de caça, até a opulência, nos sertões onde não penetrou ainda a civilização. O sorriso do diamante tão abundante, como os dentes no abrir dos lábios, ao garimpeiro feliz, que também sorri. Eis aqui a “hulha branca”, cachoeiras que se multiplicam por todo o Estado, potencial de força e de luz.
Dos teus bravos a glória se expande
De Dourados até Corumbá;
O ouro deu-te renome tão grande,
Porém mais nosso amor te dará!
Ouve, pois, nossas juras solenes
De fazermos, em paz e união,
Teu progresso imortal como a fênix
Que ainda timbra o teu nobre brasão!
Na quarta estrofe de acordo com Moreira Cruz é a vez da história: os heróis, de Dourados, Coimbra, Laguna, até Corumbá... mas embora heróico, é sempre triste o sangue derramado, que não detém e volta novamente ao ouro, às toneladas de ouro que deram tal renome a esta terra. Conclama seus filhos à união e a paz, não para um progresso qualquer, mas para um progresso imortal, lembrado pelo nobre brasão, onde a fênix, ave mitológica, se deixa queimar, apra e suas cinzas, de seu sacrifico, renascer rejuvenescida, para novas lutas, para novas vitórias, para uma nova vida, que não terá fim porque se abre para a eternidade.
Em 1983 o então governador Júlio José de Campos mandou publicar um Decreto de criava a Comissão Especial para proceder aos estudos sobre o Hino de Mato Grosso, composto por Adauto Alencar, Archimedes Pereira Lima, Marília Beatriz Figueiredo Leite, Lídio Modesto da Silva e Pedro Rocha Jucá. A comissão apresentou relatório favorável à oficialização do Hino de Mato Grosso, de autoria de D. Francisco de Aquino Corrêa e Emílio Heiné.
Segundo a Comissão o poema foi composto em oitavas (oito versos em cada estrofe) em métrica de nove sílabas poéticas, de sabor clássico. O corpo do poema conta 36 versos divididos em quatro estrofes e o estribilho em uma estrofe de quatro versos. A Comissão manteve a letra original em sua extensão e conteúdo. Sendo o poema desestruturado, sem sofrer qualquer alteração em seu conteúdo. As quatro estrofes originárias de oito versos foram dividas em oito estrofes de quatro versos e a estrofe do estribilho, de quatro versos passou para seis versos alterando-se, no entanto, a métrica, ficou estabelecida: o 1º verso com seis sílabas; o 2º com três sílabas; o 3º com nove silabas; o 4º com três sílabas; o 5º com seis sílabas e o sexto com nove sílabas.
De acordo com a comissão a idéia intrínseca do poema evoca referências clássicas, históricas e fatores ambientais e telúricos regionais.
Segundo a Comissão o termo “Qual novo colosso”, tem o efeito comparativo entre Mato Grosso e o colosso de Rodes, uma das sete maravilhas do mundo antigo. Já em outro trecho “Teu progresso imortal como a fênix/que ainda timbra o teu nobre brasão”, trás referencias mitológicas, fazendo alusão ao pássaro fênix, que, segundo a mitologia egípcia, depois de viver muitos séculos, entrava na fogueira, em suicídio espontâneo e depois renascia das próprias cinzas. Símbolo que se encontra também no Brasão de Mato Grosso, oficializado em 14/08/1918 conforme Decreto 799.
Tanto no Hino quanto no Brasão, ainda se faz referencia a duas figuras botânicas: um ramo de seringueira e outro de erva mate. A riqueza mineral está presente no ouro e no diamante, a pecuária pelas paragens pantaneiras, povoadas de gado vacum e cavalar.
Do índio da civilização de Mato Grosso tem duas figuras antagônicas: o bandeirante e o índio, responsáveis pelo aumento da população no caldeamento de povo e raça.
No trecho “Dos teus bravos a glória se expande/de Dourados até Corumbá”, o autor, de acordo com a Comissão, decanta a gloria dos filhos de Mato Grosso, como Antônio João Ribeiro, nascido em Poconé em 24/11/1820 que tombou heroicamente em 29/11/1864 quando comandava a Colônia Militar de Dourados, como Tenente do Exército; Antonio Maria Coelho, nascido em Cuiabá em 8/9/1827 e falecido em Corumbá em 29/08/1894 na Retomada de Corumbá. Tendo sido o primeiro governador de Mato Grosso na fase republicana e agraciada pelo Imperador D. Pedro II com o título de nobreza de Barão de Amambaí.
PEREIRA LEITE, Luis-Philippe. Monumentos de Mato Grosso. 75º do IHGMT. Cuiabá: Fundação Júlio Campos, 1994.

Um comentário:

Anônimo disse...

Quero parabenizá-lo pelo brilhante trabalho, pois esse veio ao encontro às minhas expectativas.