Em 1983 pelo Decreto nº 208
(05/09/1983), o então governador de Mato Grosso Julio José de Campos,
oficializava como Hino de Mato Grosso a letra e música de D. Francisco de
Aquino Corrêa, musicado pelo Ten. Emílio Heiné, comandante da Banda da Polícia
Militar. Escrito enquanto D. Aquino fora Presidente de Estado (1918-1922).
Segundo
Raimundo Pombo Moreira da Cruz é difícil encontrar um Estado, que tenha a honra
e a dita de possuir um Hino como o de Mato Grosso. O Arcebispo D. Francisco de
Aquino Corrêa conseguiu num maravilhoso milagre literário, ofertar-nos esta
primorosa grinalda, encaixilhando a geografia, a historia, os produtos, a
riqueza, os habitantes, até o brasão do Estado, sem aquela tonalidade de bairrismo
que enfeia composições idênticas.
Hino verso a verso
Limitando,
qual novo colosso,
O Ocidente do imenso Brasil,
Eis aqui, sempre em flor, Mato Grosso,
Nosso berço glorioso e gentil!
Eis a terra
das minas faiscantes,
Eldorado como outros não há,
Que o valor de imortais bandeirantes
Conquistou ao feroz Paiaguá!
De acordo com
Raimundo Pombo Moreira Cruz a primeira estrofe situa geograficamente Mato
Grosso, que para o Brasil imenso é seu limite no ocidente e para os
matogrossense é o gentil berço, sempre coberto de flores, repleto de glórias e
dadivoso de carinhos. O entusiasmo leva a cantar as riquezas da terra. Com uma
homenagem ao valor imortal do bandeirante paulista menciona a grande tribo dos
Paiaguás, cuja ferocidade indomável até então, dos índios cavaleiros, foi
conquistada e transformada num congraçamento de compreensão e amor.
Salve, terra
de amor,
Terra de ouro,
Que sonhara Moreira Cabral!
Chova o céu
Dos seus dons o tesouro
Sobre ti, bela terra natal!
No Estribilho,
segundo Moreira Cruz, Dom Aquino canta o amor à terra de mistura com o ouro. Um
sonho do herói descobridor, Paschoal Moreira Cabral, se realiza. Então é feita
uma prece aos céus, para que continue a derramar sobre ela, a generosa chuva
dos tesouros de seus presentes.
Terra noiva do
Sol, linda terra
A quem lá, do teu céu todo azul,
Beija, ardente, o astro louro na serra,
E abençoa o Cruzeiros do Sul!
No teu verde
planalto escampado,
E nos teus pantanais como o mar,
Vive, solto, aos milhões, o teu gado,
Em mimosas pastagens sem par!
Na segunda
estrofe é cantada a beleza sem igual. A linda terra, principalmente para aquele
que tem a dita de colher na serra o ardente beijo do “astro louro”. E então, à
luz desse luar, aos beijos desse noivo ciumento, nesse céu sem nuvens, os
pantanais se desdobram na grandeza do oceano, mas um mar marchetado de milhões
de gado, que se farta nas mimosas pastagens opulenta de beleza e exuberância.
Hévea fina,
erva-mate preciosa,
Palmas mil são teus ricos florões;
E da fauna e da flora o índio goza
A opulência em teus virgens sertões!
O diamante
sorri nas grupiaras
Dos teus rios que jorram, a flux.
A hulha branca das águas tão claras,
Em cascatas de força e de luz!
As demais riquezas
são enumeradas, na terceira estrofe, as seringueiras, nativas, de primeira, a
hévea fina enriquecendo as florestas, o precioso mate, também nativo, as
palmeiras, aos milhares, ornando como florão genial os vales, os montes, invadindo
as planícies. O índio continua aproveitando das maravilhas da variegada flora,
rica em medicinas e da fartura de caça, até a opulência, nos sertões onde não
penetrou ainda a civilização. O sorriso do diamante tão abundante, como os
dentes no abrir dos lábios, ao garimpeiro feliz, que também sorri. Eis aqui a
“hulha branca”, cachoeiras que se multiplicam por todo o Estado, potencial de
força e de luz.
Dos teus
bravos a glória se expande
De Dourados até Corumbá;
O ouro deu-te renome tão grande,
Porém mais nosso amor te dará!
Ouve, pois,
nossas juras solenes
De fazermos, em paz e união,
Teu progresso imortal como a fênix
Que ainda timbra o teu nobre brasão!
Na quarta
estrofe de acordo com Moreira Cruz é a vez da história: os heróis, de Dourados,
Coimbra, Laguna, até Corumbá... mas embora heróico, é sempre triste o sangue
derramado, que não detém e volta novamente ao ouro, às toneladas de ouro que
deram tal renome a esta terra. Conclama seus filhos à união e a paz, não para
um progresso qualquer, mas para um progresso imortal, lembrado pelo nobre
brasão, onde a fênix, ave mitológica, se deixa queimar, apra e suas cinzas, de
seu sacrifico, renascer rejuvenescida, para novas lutas, para novas vitórias,
para uma nova vida, que não terá fim porque se abre para a eternidade.
Em 1983 o
então governador Júlio José de Campos mandou publicar um Decreto de criava a
Comissão Especial para proceder aos estudos sobre o Hino de Mato Grosso,
composto por Adauto Alencar, Archimedes Pereira Lima, Marília Beatriz
Figueiredo Leite, Lídio Modesto da Silva e Pedro Rocha Jucá. A comissão
apresentou relatório favorável à oficialização do Hino de Mato Grosso, de
autoria de D. Francisco de Aquino Corrêa e Emílio Heiné.
Segundo a
Comissão o poema foi composto em oitavas (oito versos em cada estrofe) em
métrica de nove sílabas poéticas, de sabor clássico. O corpo do poema conta 36
versos divididos em quatro estrofes e o estribilho em uma estrofe de quatro
versos. A Comissão manteve a letra original em sua extensão e conteúdo. Sendo o
poema desestruturado, sem sofrer qualquer alteração em seu conteúdo. As quatro
estrofes originárias de oito versos foram dividas em oito estrofes de quatro
versos e a estrofe do estribilho, de quatro versos passou para seis versos
alterando-se, no entanto, a métrica, ficou estabelecida: o 1º verso com seis
sílabas; o 2º com três sílabas; o 3º com nove silabas; o 4º com três sílabas; o
5º com seis sílabas e o sexto com nove sílabas.
De acordo com
a comissão a idéia intrínseca do poema evoca referências clássicas, históricas
e fatores ambientais e telúricos regionais.
Segundo a
Comissão o termo “Qual novo colosso”, tem o efeito comparativo entre Mato
Grosso e o colosso de Rodes, uma das sete maravilhas do mundo antigo. Já em
outro trecho “Teu progresso imortal como a fênix/que ainda timbra o teu nobre
brasão”, trás referencias mitológicas, fazendo alusão ao pássaro fênix, que,
segundo a mitologia egípcia, depois de viver muitos séculos, entrava na
fogueira, em suicídio espontâneo e depois renascia das próprias cinzas. Símbolo
que se encontra também no Brasão de Mato Grosso, oficializado em 14/08/1918
conforme Decreto 799.
Tanto no Hino
quanto no Brasão, ainda se faz referencia a duas figuras botânicas: um ramo de
seringueira e outro de erva mate. A riqueza mineral está presente no ouro e no
diamante, a pecuária pelas paragens pantaneiras, povoadas de gado vacum e
cavalar.
Do índio da
civilização de Mato Grosso tem duas figuras antagônicas: o bandeirante e o
índio, responsáveis pelo aumento da população no caldeamento de povo e raça.
No trecho “Dos
teus bravos a glória se expande/de Dourados até Corumbá”, o autor, de acordo
com a Comissão, decanta a gloria dos filhos de Mato Grosso, como Antônio João
Ribeiro, nascido em Poconé em 24/11/1820 que tombou heroicamente em 29/11/1864
quando comandava a Colônia Militar de Dourados, como Tenente do Exército;
Antonio Maria Coelho, nascido em Cuiabá em 8/9/1827 e falecido em Corumbá em
29/08/1894 na Retomada de Corumbá. Tendo sido o primeiro governador de Mato
Grosso na fase republicana e agraciada pelo Imperador D. Pedro II com o título
de nobreza de Barão de Amambaí.
PEREIRA LEITE, Luis-Philippe.
Monumentos de Mato Grosso. 75º do IHGMT. Cuiabá: Fundação Júlio Campos, 1994.