Trabalho Aplicativo para a conclusão da disciplina História Medieval, da Faculdade de História da Universidade Federal de Mato Grosso, ministrado pelo prof. Mestre Flavio Paes Filho, apresentado pelas alunas Kelly e Kiara.
“Ide em frente em segurança, cavaleiros, e com alma intrépida afugentai os inimigos da cruz de Cristo, certos de que nem a morte nem a vida podem separar-vos do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, repetindo para vós mesmos a cada perigo: Quer vivamos, quer morramos, nós somos do Senhor. Quão gloriosos sã os vencedores que regressam da batalha! Quão abençoados sã os mártires que morrem em combate! Regozijai-vos, destemidos atletas, se viverdes e conquistardes no Senhor, mas exultai e glorificai ainda mais se morrerdes e vos juntardes ao Senhor. A vida de fato é fecunda e a vitória gloriosa, mas (...) a morte é melhor do que qualquer dessas coisas. Pois se aqueles que morrem no Senhor são abençoados, quão mais abençoados são aqueles que morrem pelo Senhor?”
De laude novae militae de Bernardo de Clairvaux
O Papa Clemente pela bula Vox in excelso, promulgou a abolição da Ordem do Templo:
“por um decreto irrevogável e perpetuamente válido, e nós a submetemos à proibição perpétua com a aprovação do santo concílio, estritamente proibindo qualquer um de conjeturar entrar para a referida Ordem no futuro, ou de receber ou usar seu hábito, ou de agir como um templário. E qualquer um que agir contra isso incorrerá na sentença da excomunhão ipso facto”.
Mas quem eram os templários? Porque e por quem lutavam? Qual foi o seu fim? Para Alain Demurger:
“A ordem do templo é o primeiro exemplo de uma criação original da cristandade medieval do Ocidente: a ordem religiosa e militar. No século XII, durante o movimento da reforma gregoriana e da cruzada, o novo cavaleiro de Cristo, tal como São Bernardo o enalteceu, pronuncia os votos do monge, vive segundo uma regra, mas atua na vida secular. Em nome de sua fé, ele combate, mata e morre.”
Os templários começaram a existir em Jerusalém, depois da Primeira Cruzada - a palavra cruzada, segundo Peter Partner surgiu na Idade Média quando os soldados cristãos “tomavam a cruz” antes de começarem a peregrinação armada até a Palestina, nos fins da Idade Media a idéia da cruzada foi manipulada por lideres políticos e religiosos até englobar toda uma série de atos de guerra praticados com a sanção da lei da Igreja -, Através de um grupo de soldados devotos, estabelecendo a Ordem dos Cavaleiros Pobres do Templo de Salomão.
A eles foi dado a tarefa de proteger os peregrinos nas perigosas estradas entre Jafa - onde desembarcavam na costa da Palestina - e Jerusalém, reconquistada pelos cruzados. Posteriormente a Ordem do Templo estendeu sua missão à defesa dos Estados latinos do Oriente e, depois, à Espanha da Reconquista.
Passaram a viver sob a regra religiosa conhecida como a de Santo Agostinho, e tinham a ajuda e orientação dos cônegos da Igreja do Santo Sepulcro em Jerusalém. Nesse primeiro momento, faziam orações em horas fixas, em seu refeitório observavam as regras que lhe conferiam um ar monástico e não usavam nenhuma veste especial.
A iniciativa coube e a dois homens, dos quis um, Hugo de Payns, nobre da Champagne, membro de uns ramais novo dos condes de Troyes, torna-se o primeiro mestre da nova cavalaria; o outro foi Godofredo de Saint-Ommer.
A bula papal Omne datum optimum, de 1139, onde o papa Inocêncio II consolidou a aprovação e o privilégio papais, que em 1128 foi reconhecida oficialmente, após o Concílio de Troyes, pela Igreja, onde a Igreja aceitou os templários como organização corporativa de soldados religiosos governados pelo direito canônico e ordem religiosa, sendo que os templários mortos alcançaram a vida eterna depois do suor da batalha na qual “consagraram suas mãos a Deus no sangue dos infiéis”.
Foi o papa Eugenio III que lhes concedeu o direito de usar sobre o manto branco, que passaram a usar sobre as vestes, uma cruz vermelha.
Eles eram recrutados com os discursos de Bernardo de Clairvaux, citado por Piers Paul Read:
“O Senhor do céu está perdendo sua terra, a terra na qual apareceu aos homens, na qual viveu entre os homens por mais de trinta anos (...). Sabe-se que vosso país é rico em homens jovens e vigorosos. O mundo está repleto de louvores a eles, e o renome de sua coragem está nos lábios de todos (...). Vós agora tendes uma causa pela qual podeis lutar sem pordes vossas almas em perigo; uma causa em que vencer é glorioso e pela qual morrer não é senão ganhar (...). Não percais esta oportunidade. Tomais o sinal da cruz. Imediatamente vós tereis indulgência de todos os pecados que confessardes com o coração contrito. Não vos custa muito comprar, e se a usardes com humildade, vereis que ela é o reino dos céus”. (pg.128).
Para lutar contra os incrédulos, os infiéis, os inimigos da verdade e do direito, os templários participavam da luta armada cotidiana na Terra Santa, em Jerusalém, na cidade sagrada para o judaísmo, cristianismo e o islamismo.
Após a decisão de entrar para a Ordem juravam submeter, conforme Piers Paul Read: “me submeto à mesma ordem de cavalaria de Deus e do Templo, a fim de servir como servo e irmão, embora indigno, e que todos os dias da minha vida possa eu merecer a indulgência de meus pecados e por herança com o eleito na eternidade” (p.120), entravam num esquema hierárquico, aos modos feudais, da trifuncionalidade, ou seja, eram divididos, conforme Alain Demurger, em: os que combatem (cavaleiros e sargentos), os que rezam (capelães), os que trabalham (irmãos de ofícios). Ele cita que há também os associados, pessoas que pediam para partilhar “do pão e da água” dos irmãos do Templo, numa espécie de ritual de entrada. Após a entrada o templário vai formar um par indissociável com seu cavalo.
Todos que entram para o Templo e se associam a ele acabam fazendo doações materiais – terras, dinheiro, objetos. Milhares de propriedades, grandes e pequenas, foram dadas à ordem, a principio na Inglaterra, França e Espanha, e depois na maior parte da Europa. Segundo Peter Partner, teve-se que organização para administrar esse enorme patrimônio e transferir dinheiro e suprimentos para a Terra Santa. Dessa forma, em pouco tempo a transferência de fundos dava à ordem um novo papel como banqueiro, não só de si mesma como de outros.
Mas em 1307, a Ordem, sofre uma acusação brutal pelo rei da França, Filipe, o Belo, que foi seguida de um processo iníquo e de sua extinção, em 1312. Segundo Piers Paul Read: “a ordem do templo tornou-se o bode expiatório de um conflito que estava além dela e foi exacerbado na França pela personalidade do rei e de seus conselheiros: o conflito entre um poder espiritual na defensiva e o Estado moderno que se afirma no Ocidente desde meados do século XIII”.
Nas primeiras horas da manhã de uma sexta-feira, do dia 13 de outubro de 1307, agentes do rei de França prenderam, por suspeita de heresia, todos os membros conhecidos da Ordem Templária. De acordo com o mandato real de prisão, citado por Peter Partner, “como bestas de carga privadas da razão, na verdade ultrapassando a irracionalidade das bestas em sua bestialidade, eles abandonaram a Deus, seu Criador, e sacrificaram aos demônios, e não a Deus” (pág 70).
O procedimento habitual era a prisão e custódia dos acusados por um tribunal eclesiástico, para fossem julgados segundo o direito canônico, e ao final desse julgamento a sua transferência, para serem castigados pelo braço secular, se esse fosse o veredicto. Conforme descrito por Peter Partner, as prisões foram efetuadas pelo rei, sendo o interrogatório entregue as mãos de seus funcionários reais, que utilizavam tortura física e mental. Ao primeiro estavam preparados para passar temporadas em prisões muçulmanas, mas por terem vivido num mundo fechado e isolado de um grupo militar de elite, tinham o apoio do resto da sociedade, gozavam de privilegio papal, da aprovação real e dos nobre, além dos laços de irmandade com um vasto setor da sociedade nobre, e até mesmo popular.
Eles foram terrivelmente torturados durante o interrogatório judicial, sendo alguns queimados vivos em sinal de intimidação para com os outros, levando-os a confessar. Ao termino de um curto período de crise (1307-1312), a Ordem dos Templários estava dissolvida para sempre.
O governo francês alegou zelo religioso para agir contra o Templo. Para Cristiano Spinola, político genovês, citado por Perter Partner, as verdadeiras razões do rei Filipe, eram de tomar-lhes o dinheiro e também de unir as duas ordens militares do Templo e do Hospital numa única, que seria controlada por alguém da família real francesa. Assim como Piers Paul, cita que, Dante Alighieri os teria julgado vítimas inocentes da cobiça do rei Filipe, ao passo que Raimundo Lúlio, o poeta, místico, missionário e teórico das cruzadas maiorquino, acabou por aceitar que as acusações feitas contra a Ordem do Templo eram verdadeiras, já a occulta philosophia, de Henrique Cornélio Agripa, dizia que os templários estavam associados com bruxas, e o pensador político francês Jean Bodin, cita-os, junto com Jesus, como exemplo de uma minoria vulnerável marginalizada e depois expropriada por um rei ganancioso. Com o advento do Iluminismo, século XVII, surgiu uma terceira concepção dos templários como nem cristão ortodoxos nem heréticos, mas antes como os sumos sacerdotes de uma religião antiga e oculta anterior ao nascimento de Cristo. Os principais agentes dessa metamorfose dos templários de história em mito foram os maçons, confrarias secretas comprometidas com o apoio mútuo, cujo deísmo impreciso tornou-as inimigas da Igreja Católica Romana.
O que sabemos é que os homens, a partir do século XVI, tiveram a tendência de sentir, em relação aos ideais cavalheirescos da Idade Média, um misto de simpatia e aversão. Essas idéias atraíram admiradores mesmo entre aqueles para quem o clericalismo da Idade Media era repugnante.
Para Partner, há duas maneiras muito diferentes de ver o “julgamento” e o fim dos templários: uma delas é política sendo então o julgamento parte da historia da conspiração e perseguição política, motivada por uma espécie de terror e de fascínio pela maneira brutal com que um governo absolutista pode arrancar confissões de crimes e conspirações inexistentes daqueles a quem querem submeter a uma pressão extrema. e do papado que desempenhou o papel de observador passivo, ou mais ou menos complacentes, durante a maior parte dos julgamentos dos templários, acrescentou uma pitada de anticlericalismo a historia; e por outro lado, muitos autores, desde o século XVI, negaram-se a atribuir aos templários o papel passivo de simples soldados-monges traídos e condenados pelo governo e pela Igreja a que serviam, por serem, segundo tais autores, magos instruídos, ricos e poderosos, não tanto por terem propriedades da Igreja, mas sim por controlarem conhecimentos e praticas ocultos.
Assim, após o julgamento, o concilio e promulgação da bula papal, deixava de existir a Ordem do Templo de Salomão, os templários, sendo seus bens passados a Ordem do Hospital, os hospitalários.
Mesmo de forma superficial, o presente, texto abrange um pouco da história dos templários, objetos de próximas aprofundações, do seu nascer a sua extinção. E desvenda a verdade por trás dos vários mitos criados em torno de si.
Bibliografia
DEMURGER, Alain. Os Templários: uma cavalaria cristã na Idade Média. Rio de Janeiro: DIFEL, 2007.
PARTNER, Peter. O assassinato dos magos: os templários e seu mito. Rio de Janeiro: Campus, 1991.
READ, Piers Paul. Os Templários. Rio de Janeiro: Imago Ed. 2001.
“Ide em frente em segurança, cavaleiros, e com alma intrépida afugentai os inimigos da cruz de Cristo, certos de que nem a morte nem a vida podem separar-vos do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, repetindo para vós mesmos a cada perigo: Quer vivamos, quer morramos, nós somos do Senhor. Quão gloriosos sã os vencedores que regressam da batalha! Quão abençoados sã os mártires que morrem em combate! Regozijai-vos, destemidos atletas, se viverdes e conquistardes no Senhor, mas exultai e glorificai ainda mais se morrerdes e vos juntardes ao Senhor. A vida de fato é fecunda e a vitória gloriosa, mas (...) a morte é melhor do que qualquer dessas coisas. Pois se aqueles que morrem no Senhor são abençoados, quão mais abençoados são aqueles que morrem pelo Senhor?”
De laude novae militae de Bernardo de Clairvaux
O Papa Clemente pela bula Vox in excelso, promulgou a abolição da Ordem do Templo:
“por um decreto irrevogável e perpetuamente válido, e nós a submetemos à proibição perpétua com a aprovação do santo concílio, estritamente proibindo qualquer um de conjeturar entrar para a referida Ordem no futuro, ou de receber ou usar seu hábito, ou de agir como um templário. E qualquer um que agir contra isso incorrerá na sentença da excomunhão ipso facto”.
Mas quem eram os templários? Porque e por quem lutavam? Qual foi o seu fim? Para Alain Demurger:
“A ordem do templo é o primeiro exemplo de uma criação original da cristandade medieval do Ocidente: a ordem religiosa e militar. No século XII, durante o movimento da reforma gregoriana e da cruzada, o novo cavaleiro de Cristo, tal como São Bernardo o enalteceu, pronuncia os votos do monge, vive segundo uma regra, mas atua na vida secular. Em nome de sua fé, ele combate, mata e morre.”
Os templários começaram a existir em Jerusalém, depois da Primeira Cruzada - a palavra cruzada, segundo Peter Partner surgiu na Idade Média quando os soldados cristãos “tomavam a cruz” antes de começarem a peregrinação armada até a Palestina, nos fins da Idade Media a idéia da cruzada foi manipulada por lideres políticos e religiosos até englobar toda uma série de atos de guerra praticados com a sanção da lei da Igreja -, Através de um grupo de soldados devotos, estabelecendo a Ordem dos Cavaleiros Pobres do Templo de Salomão.
A eles foi dado a tarefa de proteger os peregrinos nas perigosas estradas entre Jafa - onde desembarcavam na costa da Palestina - e Jerusalém, reconquistada pelos cruzados. Posteriormente a Ordem do Templo estendeu sua missão à defesa dos Estados latinos do Oriente e, depois, à Espanha da Reconquista.
Passaram a viver sob a regra religiosa conhecida como a de Santo Agostinho, e tinham a ajuda e orientação dos cônegos da Igreja do Santo Sepulcro em Jerusalém. Nesse primeiro momento, faziam orações em horas fixas, em seu refeitório observavam as regras que lhe conferiam um ar monástico e não usavam nenhuma veste especial.
A iniciativa coube e a dois homens, dos quis um, Hugo de Payns, nobre da Champagne, membro de uns ramais novo dos condes de Troyes, torna-se o primeiro mestre da nova cavalaria; o outro foi Godofredo de Saint-Ommer.
A bula papal Omne datum optimum, de 1139, onde o papa Inocêncio II consolidou a aprovação e o privilégio papais, que em 1128 foi reconhecida oficialmente, após o Concílio de Troyes, pela Igreja, onde a Igreja aceitou os templários como organização corporativa de soldados religiosos governados pelo direito canônico e ordem religiosa, sendo que os templários mortos alcançaram a vida eterna depois do suor da batalha na qual “consagraram suas mãos a Deus no sangue dos infiéis”.
Foi o papa Eugenio III que lhes concedeu o direito de usar sobre o manto branco, que passaram a usar sobre as vestes, uma cruz vermelha.
Eles eram recrutados com os discursos de Bernardo de Clairvaux, citado por Piers Paul Read:
“O Senhor do céu está perdendo sua terra, a terra na qual apareceu aos homens, na qual viveu entre os homens por mais de trinta anos (...). Sabe-se que vosso país é rico em homens jovens e vigorosos. O mundo está repleto de louvores a eles, e o renome de sua coragem está nos lábios de todos (...). Vós agora tendes uma causa pela qual podeis lutar sem pordes vossas almas em perigo; uma causa em que vencer é glorioso e pela qual morrer não é senão ganhar (...). Não percais esta oportunidade. Tomais o sinal da cruz. Imediatamente vós tereis indulgência de todos os pecados que confessardes com o coração contrito. Não vos custa muito comprar, e se a usardes com humildade, vereis que ela é o reino dos céus”. (pg.128).
Para lutar contra os incrédulos, os infiéis, os inimigos da verdade e do direito, os templários participavam da luta armada cotidiana na Terra Santa, em Jerusalém, na cidade sagrada para o judaísmo, cristianismo e o islamismo.
Após a decisão de entrar para a Ordem juravam submeter, conforme Piers Paul Read: “me submeto à mesma ordem de cavalaria de Deus e do Templo, a fim de servir como servo e irmão, embora indigno, e que todos os dias da minha vida possa eu merecer a indulgência de meus pecados e por herança com o eleito na eternidade” (p.120), entravam num esquema hierárquico, aos modos feudais, da trifuncionalidade, ou seja, eram divididos, conforme Alain Demurger, em: os que combatem (cavaleiros e sargentos), os que rezam (capelães), os que trabalham (irmãos de ofícios). Ele cita que há também os associados, pessoas que pediam para partilhar “do pão e da água” dos irmãos do Templo, numa espécie de ritual de entrada. Após a entrada o templário vai formar um par indissociável com seu cavalo.
Todos que entram para o Templo e se associam a ele acabam fazendo doações materiais – terras, dinheiro, objetos. Milhares de propriedades, grandes e pequenas, foram dadas à ordem, a principio na Inglaterra, França e Espanha, e depois na maior parte da Europa. Segundo Peter Partner, teve-se que organização para administrar esse enorme patrimônio e transferir dinheiro e suprimentos para a Terra Santa. Dessa forma, em pouco tempo a transferência de fundos dava à ordem um novo papel como banqueiro, não só de si mesma como de outros.
Mas em 1307, a Ordem, sofre uma acusação brutal pelo rei da França, Filipe, o Belo, que foi seguida de um processo iníquo e de sua extinção, em 1312. Segundo Piers Paul Read: “a ordem do templo tornou-se o bode expiatório de um conflito que estava além dela e foi exacerbado na França pela personalidade do rei e de seus conselheiros: o conflito entre um poder espiritual na defensiva e o Estado moderno que se afirma no Ocidente desde meados do século XIII”.
Nas primeiras horas da manhã de uma sexta-feira, do dia 13 de outubro de 1307, agentes do rei de França prenderam, por suspeita de heresia, todos os membros conhecidos da Ordem Templária. De acordo com o mandato real de prisão, citado por Peter Partner, “como bestas de carga privadas da razão, na verdade ultrapassando a irracionalidade das bestas em sua bestialidade, eles abandonaram a Deus, seu Criador, e sacrificaram aos demônios, e não a Deus” (pág 70).
O procedimento habitual era a prisão e custódia dos acusados por um tribunal eclesiástico, para fossem julgados segundo o direito canônico, e ao final desse julgamento a sua transferência, para serem castigados pelo braço secular, se esse fosse o veredicto. Conforme descrito por Peter Partner, as prisões foram efetuadas pelo rei, sendo o interrogatório entregue as mãos de seus funcionários reais, que utilizavam tortura física e mental. Ao primeiro estavam preparados para passar temporadas em prisões muçulmanas, mas por terem vivido num mundo fechado e isolado de um grupo militar de elite, tinham o apoio do resto da sociedade, gozavam de privilegio papal, da aprovação real e dos nobre, além dos laços de irmandade com um vasto setor da sociedade nobre, e até mesmo popular.
Eles foram terrivelmente torturados durante o interrogatório judicial, sendo alguns queimados vivos em sinal de intimidação para com os outros, levando-os a confessar. Ao termino de um curto período de crise (1307-1312), a Ordem dos Templários estava dissolvida para sempre.
O governo francês alegou zelo religioso para agir contra o Templo. Para Cristiano Spinola, político genovês, citado por Perter Partner, as verdadeiras razões do rei Filipe, eram de tomar-lhes o dinheiro e também de unir as duas ordens militares do Templo e do Hospital numa única, que seria controlada por alguém da família real francesa. Assim como Piers Paul, cita que, Dante Alighieri os teria julgado vítimas inocentes da cobiça do rei Filipe, ao passo que Raimundo Lúlio, o poeta, místico, missionário e teórico das cruzadas maiorquino, acabou por aceitar que as acusações feitas contra a Ordem do Templo eram verdadeiras, já a occulta philosophia, de Henrique Cornélio Agripa, dizia que os templários estavam associados com bruxas, e o pensador político francês Jean Bodin, cita-os, junto com Jesus, como exemplo de uma minoria vulnerável marginalizada e depois expropriada por um rei ganancioso. Com o advento do Iluminismo, século XVII, surgiu uma terceira concepção dos templários como nem cristão ortodoxos nem heréticos, mas antes como os sumos sacerdotes de uma religião antiga e oculta anterior ao nascimento de Cristo. Os principais agentes dessa metamorfose dos templários de história em mito foram os maçons, confrarias secretas comprometidas com o apoio mútuo, cujo deísmo impreciso tornou-as inimigas da Igreja Católica Romana.
O que sabemos é que os homens, a partir do século XVI, tiveram a tendência de sentir, em relação aos ideais cavalheirescos da Idade Média, um misto de simpatia e aversão. Essas idéias atraíram admiradores mesmo entre aqueles para quem o clericalismo da Idade Media era repugnante.
Para Partner, há duas maneiras muito diferentes de ver o “julgamento” e o fim dos templários: uma delas é política sendo então o julgamento parte da historia da conspiração e perseguição política, motivada por uma espécie de terror e de fascínio pela maneira brutal com que um governo absolutista pode arrancar confissões de crimes e conspirações inexistentes daqueles a quem querem submeter a uma pressão extrema. e do papado que desempenhou o papel de observador passivo, ou mais ou menos complacentes, durante a maior parte dos julgamentos dos templários, acrescentou uma pitada de anticlericalismo a historia; e por outro lado, muitos autores, desde o século XVI, negaram-se a atribuir aos templários o papel passivo de simples soldados-monges traídos e condenados pelo governo e pela Igreja a que serviam, por serem, segundo tais autores, magos instruídos, ricos e poderosos, não tanto por terem propriedades da Igreja, mas sim por controlarem conhecimentos e praticas ocultos.
Assim, após o julgamento, o concilio e promulgação da bula papal, deixava de existir a Ordem do Templo de Salomão, os templários, sendo seus bens passados a Ordem do Hospital, os hospitalários.
Mesmo de forma superficial, o presente, texto abrange um pouco da história dos templários, objetos de próximas aprofundações, do seu nascer a sua extinção. E desvenda a verdade por trás dos vários mitos criados em torno de si.
Bibliografia
DEMURGER, Alain. Os Templários: uma cavalaria cristã na Idade Média. Rio de Janeiro: DIFEL, 2007.
PARTNER, Peter. O assassinato dos magos: os templários e seu mito. Rio de Janeiro: Campus, 1991.
READ, Piers Paul. Os Templários. Rio de Janeiro: Imago Ed. 2001.
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