7 de jul. de 2008

Recordando o dia 21/06/2006

Mauricio Gonçalves de Moraes e Clotilde Pinheiro de Moraes
Meus avôs em sua boda de ouro
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Hoje, na hora do almoço fui até a casa de minha avó, que saiu do hospital ontem, numa caminhada de 10 minutos, do meu serviço até lá.
Não é que eu não a visite sempre ... mais hoje ao chegar perto da casa dela .... casa antiga cuiabana, do tipo chegou na sala viu a cozinha ... constatei a mudança que ocorre em Cuiabá ... e que acabou de me atingir .... uma construtora estava demolindo uma construção antiga, a muito tempo abandonada, quase 10 anos, de uma distribuidora de bebidas ... e a casa da minha avó também pode ir no bolo ...
Não sou contra o progresso ....
Apenas ... me deu saudade da Rua Estevão de Mendonça de alguns anos atrás ... onde corriamos pela rua jogando bola, brincando de pegador, de dono da rua .... do beco em que brincavamos de roda, cirandinha, terezinha de jesus, flores brancas e tantas outras que a memoria falha ... das árvores.
há! que árvores, majestosas, flondosa ... onde subiamos para pegar manga, rosa, comum, borbom, espada ... doce ... saiamos lambuzados, melecados ...
há! e o pé de bocaiúva ... quem teve a coragem de cortá-lo! Ficava carregadinho e pulavamos o muro do 'seo' ... não lembro ... tanto tempo ... apanhavamos um cabo de vassoura de vasculhar ou um pau mais alto ... batiamos nos cachos e tum-tum-tum, caia pelo chão ... e corriamos atrás daquele 'chiclete' amarelo, mordendo e mordendo ... até acabar o caldo ... até não ter mais fibra e ficar só o coquinho ... ai deixavamos no sol para secar e quebravamos a casca para comer o coco ... hummmmm!!!
Onde foram parar o pé de pitomba?! Sentavamos no meio-fio com os cachos no colo, quebravamos a casca e chupavamos .... minha boca encheu d'água ...
O que fizeram com o pé de colônia ... que minha vó pegava as flores colocava no álcool e dava pra gente beber para acalmar qdo caíamos ou quando alguém ficava nervoso ...
Senti falta das toceras de capim-cidreira ... com que ela fazia o chá da manhã ... ai iamos comprar pão no 'seo' Ninito ... ele também não faz mais parte dessa história ... tem pra mais de um par de anos que ele se foi ... assim como meu avô .... era com ele que comiamos o quebra-torto, o desjejum ... uma farofa de ovo, carne, ou um escaldado ou um mexidinho - o caldo que sobrara na janta misturado com farinha.
No final da tarde sentavamos na muretinha ... ainda não tinha os prédios que hoje tem ... dava pra ver melhor o céu, as estrelas ...
Havia também uma enorme calçada de paralelepipedos ... onde corriamos, hoje ... lá só vi pó e barulho de coisa caindo ...
E passei a me perguntar por quanto tempo ainda terei memória pra lembrar das coisas de criança ... correndo no baixadão do quintal ... do chiqueiro do porco, que vovô criava para o natal ... do coqueiro que vovó pegava coco para colocar na cangica ... do pezinho de erva-doce que eu não entendia como pudesse virar os grãozinhos que vinham no saquinho ... que vovó adora, até hoje, fazer chazinho.
Resta-me juntar os pedaços da minha memória e gravar em minha mente e no coração.
E agradecer aquele pedacinho do bairro Quilombo, aquele trechinho da rua Estevão de Mendonça, aos casarões antigos, ultrapassados, com seus quintais enormes, com seus frutos saborosos, com suas ervas milagrosas, com sua terra pisoteada por pés descalço ou de havaiana, muito antes de havaiana virar moda e ser colorida, correndo desesperado pelos quintais, atrás de pipa, ou de bolita, pulando amaralinha, atrás de totó, ou das penosas que insistiam em correr atrás da gente ... ou a gente dos marimbondos ... e daqui a pouco todos na barra da saia da vovó querendo merendar ... chá mate e bolo de cinco minutos ou bolo de chuva ou queijo com goiabada .. podia ser também rapadura ... adorava a de leite ... mais a simples só com o caldo da cana também era muito bom ... ou doce de caju que vovó mesmo fazia no tacho, num fogão a lenha improvisado na área perto do tanque d'água ... podia ser de goiaba também ... onde ajudavamos a corta uma por uma, tirar o caroço, e ficavamos olhando bater no liquidificador para ficar amassadinho ... mais também gosta do doce de goiaba inteiro ... tem um nome ... mais não me lembro mais ...
Tinha também uma mesa lá fora que uma mangueira fazia sombra ... onde você labutava com peixe ... época de semana santa ... era uma fartura ... vovô ia pescar ... trazia feixe de peixe, cambada de pacu, lambari, pintado ... como gostavamos de pintado frito ... acompanhado de farinha de mandioca e banana da terra frita .... lembrando de banana ... vovó também cozinhava-as depois tirava a casca, partia no meio, passava manteiga e colocava no forno para ficar um pouquinho crocante ...
Tchau ... tempo de criança .. espero de encontrar alí, depois daquela curva ... depois daquela rua ... de preferencia em outra Rua Estevão de Mendonça, um pedaço do mato no coração do centro da cidade.

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