25 de abr. de 2009

Os Pilares da Terra

Trabalho Aplicativo para a conclusão da disciplina
História Medieval, da Faculdade de História da
Universidade Federal de Mato Grosso.

Profº Mestre Flavio Paes Filho

Alunas: Kelly Lohnhoff de Souza
Kyara Ramos Barbosa
Liliane dos Santos Moraes Fernandes
Raphaela Rezzieri


“A sociedade está dividida em três ordens. Além da eclesiástica, a lei reconhece outras duas condições: a do nobre e a do servo que não são regidas pela mesma lei. Os nobres são os guerreiros, os protetores das igrejas, defendem a todo o povo e ao mesmo tempo se protegem a eles mesmos. A outra classe é a dos servos. Essa classe de desgraçados não possui nada sem sofrimento; fornece provisões e roupas a todos, pois os homens livres não podem valer-se sem eles. Assim, pois, a cidade de Deus que é tomada como una, na verdade é tripla. Alguns rezam, outros lutam e outros trabalham. As três ordens vivem juntas e não podem ser separadas”.
Adalberon


Índice

Apresentação...............................................................................05
O Autor.........................................................................................06
O Livro..........................................................................................07
A Resenha.....................................................................................08
Personagens do Livro..................................................................11
A Análise.......................................................................................16
Conclusão......................................................................................28
Bibliografia....................................................................................29


Apresentação


Esse trabalho é uma tentativa de mostrar um pouco da divisão das “classes” medievais, pela trifuncionalidade: Clero, Nobreza e Povo, através da obra de Ken Follet, Os Pilares da Terra, publicado pela primeira vez em 1989.
Trata de um romance histórico que aborda os conflitos religiosos, os romances, as conspirações pelo poder, da época medieval, tendo como centro a disputa pelo trono da Inglaterra durante a construção de uma catedral e a influência da Igreja.
Apresentaremos analogias entre as obras de Ken Follet e a obra de Hilário Franco Junior, A Idade Média: O nascimento do Ocidente, para um melhor olhar sobre o homem do medievo e um discernimento entre o romance e os fatos históricos.


O Livro

O livro foi editado originalmente em 1989 no Reino Unido, três anos e três meses após começar a escrevê-lo e tornou o maior best-seller de Ken Follet, com 916 páginas e cerca de 3 kg de peso.
Depois de conhecer a Catedral de Petrerborough, passou a visitar catedrais no interior da Inglaterra como hobby, assim visitou Cantuária, Salisbury, Winchester, Gloucester e Lincoln, e ficava imaginando histórias intrigantes para contar, através de sua construção, dos danos causados pelo tempo, da reconstrução, de suas ampliações em tempos de prosperidade, dos vidros coloridos em seus vitrais que em muitas vezes são homenagens aos homens ricos que ajudavam nas construções com suas doações. Para ele, a construção de uma catedral medieval européia deveria ser um fenômeno espantoso, até porque os construtores não dispunham de ferramentas elétricas e nem mesmo compreendiam a matemática da engenharia estrutural, e assim mesmo construíram tão bem que elas ainda existem, a centenas de anos de sua construção, para fascinar as pessoas como Follett.
Assim, na década de 70 quando era repórter do London Evening News, visitou a catedral de Petrerborough, e após 15 anos, escreve Pillars of the Earth. Ambientada na Inglaterra do século XII e na construção minuciosa de uma catedral, onde Tom, um humilde pedreiro e mestre-de-obras, sonha em construir um templo majestoso e grandioso a Deus e encontra em Philip, prior de Kingsbridge, a possibilidade de seu projeto de vida.Follet traçar um painel de um tempo conturbado, varrido por conspirações, jogos de poder, fome e conflitos religiosos, violência e o surgimento de uma nova ordem social e cultural, em uma Inglaterra sacudida por lutas ao trono: O rei que surge a espaços, ora Matilde ora Estevão; A aristocracia, com Aliena, Richard, William Hamsleigh; O clero, onde o prior Philip e o Bispo Waleran Bigod são a face para o bem e para o mal; O Povo, por Tom Construtor, Alfredo e Jack; Os proscritos, gente sem casa, sem nada, representada por Ellen.
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A Resenha

Na trama, Philip Gwyned, prior de Kingsbridge, enfrenta o ambicioso bispo Waleran Bigod. Administrador enérgico, Philip assume um mosteiro à beira da falência e o reergue, transformando a aldeia ao redor numa cidade importante. Waleran a princípio ajuda Philip na esperança de usá-lo para subir na hierarquia da Igreja, desejava tornar-se Papa, mais ao perceber que não pode manipulá-lo, torna-se seu inimigo e tenta destruí-lo com ajuda dos Hamsleigh.
A jovem Aliena, filha do conde Bartholomew de Shiring, também incorre na ira da poderosa família Hamsleigh ao não aceitar o noivado com William. Insultados, os Hamsleigh invadem e tomam o condado de Shiring, obrigando Aliena e o irmão Richard a fugirem, mas antes disso, William e Walter estuprarem Aliena e cortarem a ponta da orelha de Richard. Aliena e Richard conseguem visitar Barlolomew que encontra preso na cadeia, e morre dias depois, que os faz jurar que não descansaram enquanto não recuperarem as terras da família e Richard se consagrar Conde de Shiring. Aliena e Richard vão estabelecer-se em Kingsbridge, protegidos pelo prior Philip, ela prospera no comércio de lã e financia a carreira do irmão como cavaleiro do rei, na esperança de que o soberano devolva as terras da família usurpadas por William. O que ocorre somente quando é selado o acordo entre Estevão e Henrique, filho de Matilde – o trono seria de Henrique após a morte de Estevão.
O jovem Jack é inteligente e talentoso, viveu com a mãe na floresta até que ela desposou Tom Construtor, o qual se torna mestre construtor da catedral de Kingsbridge. Jack suporta os ciúmes do filho mais velho de Tom, Alfred, que o odeia por ser mais esperto e o humilha sempre que pode. No entanto, é Jack e não Alfred quem se torna o herdeiro da profissão de Tom e de seu sonho de construir a catedral. Um segredo envolve a morte do pai verdadeiro de Jack, Jack de Shareburg, que é enforcado em praça publica acusado do roubo de um cálice ornado com pedras preciosas do priorado de Kingsbridge, sendo acusado pelo prior James, Percy Hamsleigh e Waleran Bigod.
As tramas se cruzam em trono da construção da catedral. O bispo Waleran e William Hamsleigh se une para derrotar o prior Philip e impedir que a catedral seja construída. Contudo, Philip consegue superar as tramóias, até que William incendeia a Feira de Lã de Kingsbridge e reduz a população à miséria. Entre os arruinados, está Aliena, que perde toda a fortuna que conseguiu juntar em anos de trabalho como comerciante de lã. Durante o ataque, Tom é assassinado por William Hamsleigh. Com a morte do mestre construtor e sem recursos para tocar a obra, Philip interrompe a construção da catedral.
Aproveitando-se das necessidades financeiras de Aliena e sabendo que Jack é apaixonado por Aliena, Alfred a pede em casamento. Mergulhada em dívidas e tendo que sustentar as despesas do irmão se vê forçada a aceitar. Desesperado Jack vai embora de Kingsbridge, percorrendo o Caminho de São Tiago de Compostela e indo até Paris, antes, porém toma Aliena como mulher e sem saber a deixa grávida. Mas o casamento de Alfred e Aliena não se consuma pela praga rogada por Ellen, mãe de Jack, e quando o teto da Catedral desaba, a gravidez de Aliena é descoberta e ele a repudia por ser o filho de Jack. Aliena volta à casa de Richard, com o filho nos braços. Ellen convence Aliena a procurar Jack. Depois de muitas peripécias, os dois se reencontram em Paris, onde Jack fica fascinado com a arquitetura gótica e resolve construir a catedral de Kingsbridge nesse estilo.
Os dois voltam para Kingsbridge. Jack convence o prior Philip a retomar as obras da catedral e a designando-o como mestre construtor. Mas para isso, Jack tem que se separar de Aliena até que a Igreja anule o casamento dela com Alfred e os dois possam se casar. A pedido de William, que nunca conseguiu esquecer Aliena, o bispo Waleran usa sua influência para fazer com que a anulação seja negada por muitos anos.
No desenrolar dessas tramas, a Inglaterra vive uma guerra civil. O herdeiro legítimo do trono morreu num naufrágio e dois candidatos disputam à coroa: Matilde, a seguinte na linha de sucessão, e Estevão, o usurpador. Waleran e William se aliam ora a um, ora a outro, de acordo com as conveniências políticas do momento.
A guerra lança o país na miséria e só termina anos depois, quando o filho de Matilde, Henrique negocia um acordo com Estevão.
Richard, que se aliou a Henrique, recebe seu condado de volta. Alfred volta a Kingsbridge e tenta estuprar Aliena, mas é morto por Richard. Para expiar o crime, Richard parte para a Terra Santa, onde morre algum tempo depois em um terremoto, e deixa o condado nas mãos de Aliena. Agora viúva, ela está livre para se casar com Jack. Sob a liderança de Aliena, o condado de Shiring volta a ser poderoso como nos tempos do pai dela. Seu filho Tommy, após a morte de Richard, torna-se o novo Conde de Shiring e administrar o condado como seu avô Bartolomew.
Nesse meio tempo, Ellen revela que Waleran esteve envolvido na morte do pai de Jack e o bispo perde seu cargo. Para o seu lugar, o arcebispo Tomás Becket designa o prior Philip. Waleran e William tomam parte na conspiração que assassina Becket. Denunciados por Philip, William é enforcado e Waleran refugia-se no mosteiro, arrependido de seus crimes. Antes de entrar para o claustro, revela a Jack que seu pai foi enforcado para não contar que o naufrágio onde o herdeiro do trono morreu foi planejado por um grupo de nobres que não o queriam como rei. Agora que sabe a verdade sobre o pai, Jack termina de construir a catedral e passa o resto de seus dias feliz ao lado da mulher que ama.
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Personagens do Livro

Rei/Rainha
Henrique – Rei da Inglaterra, morre na Normandia, deixando o trono inglês vago, seu sucessor natural morreu no navio White Ship afundado no mar. O trono passa a ser disputado por sua filha Matilde, com ajuda de seu filho bastardo Robert, e por Estevão seu sobrinho.
Estevão – através de uma manobra consegue o apoio da Igreja e é coroado Rei da Inglaterra no lugar de Matilde. Brigam pelo trono até que Estevão e Henrique, filho de Matilde, firmam um acordo que garantirá Henrique como Rei após a morte de Estevão.
Matilde – a herdeira seguinte de Henrique, após o naufrágio do navio que levava o herdeiro de Henrique. Numa manobra de seu primo Estevão, que é coroado Rei. Entra em batalha para a sucessão do trono.
Robert – Conde de Gloucester, herdeiro bastardo de Henrique ajuda Matilde a lutar pelo trono contra Estevão.
Henrique – filho de Matilde e Godofredo de Anjou, reclama o trono de Estevão, ao qual a mãe já vinha lutando. Entram em acordo que após a morte de Estevão será o novo Rei, o que acontece, mas logo entra em confronto com a Igreja, em uma das reuniões dá a entender que quer se livrar do Bispo Tomás Becket, que acaba assassinado pelos homens de Hamsleigh, o Papa o declara santo, depois de uma manobra de Philip, sendo então sentenciado a chicotadas pelos clérigos, após confessar o assassinato involuntário do Bispo Tomás Becket.

Clero
Philip de Gwyned – Gales, foi criado num mosteiro junto com o irmão Francis, após a morte violenta dos pais. Seu irmão Francis o procura em seu mosteiro para contar da conspiração para tornar Matilde à nova Rainha da Inglaterra. A Igreja já havia coroado Estevão. Philip vai até o Priorado de Kingsbridge para contar ao superior, no bispado encontra com Waleran e conta da conspiração. Torna-se prior de Kingsbridge e depois Bispo.
Francis de Gwyned – irmão mais novo de Philip e também religioso. Trabalha para um dos conspiradores a favor de Matilde, Robert de Gloucester. Revela o plano de destituição de Estevão, que possui apoio da Igreja para reinar.
Waleran Bigod – tornou-se bispo de Kingsbridge com apoio do novo prior, Philip, após tê-lo ajudado a se tornar prior. Waleran consegue apoio de Percy e Megan Hamsleigh, para deter a conspiração contra Estevão. E assim se catapultar ao Papado. Tornou-se Bispo de Lincoln, terceiro maior bispado atrás de Canterbury e York.
Henrique – bispo de Winchester e abade de Glastonbury, irmão caçula de Estevão. Que o ajudou a tomar o Castelo de Winchester e tomar o trono de seu irmão mais velho Teobaldo e de sua prima Matilde em troca seu irmão jurou solenemente que preservaria os direitos e privilégios da Igreja.
Peter de Wareham – noviço de Philip, muito questionador e desordeiro, tornou-se arcediago de Canterbury numa manobra de Waleran Bigod, onde presídio uma tentativa de julgamento contra Philip, por nepotismo e fornicação.
Jonathan – bebê de Agnes e Tom Construtor, foi deixado para morrer pelo pai, por não poder alimentá-lo. Arrependido Tom volta e verifica que o filho não está mais em cima da sepultura de Agnes, reencontra Ellen, que diz que Jack havia ouvido um choro de bebê enquanto caçava patos. Havia sido levado por Francis, irmão de Philip, para o mosteiro, permanecendo ali aos cuidados de Jhonny Oito Pences, sendo levado para Kingsbridge. Mais tarde torna-se Prior.
Tomás Becket – arcebispo de Canterbury, destituído pelo Rei Henrique II, por encontrar-se em desavença com a Igreja. É morto pelos homens de Willian Hamsleigh. E com a manobra de Philip torna-se santo, fazendo com que finalmente o Rei se submeta à igreja.

Aristocracia
Bartolomew de Shiring – primeiro Conde de Shiring é capturado e morre na prisão, depois de conspirar para fazer de Matilde, filha de Henrique, a nova herdeira do trono, em detrimento de Estevão, sobrinho de Henrique. Faz sua filha Aliena jurar que ajudara Richard a se tornar Conde de Shiring e vingar a família.
Aliena – filha do primeiro Conde de Shiring, Bartolomew. É estuprada por William Hamsleigh e seu escudeiro, Walter, após cortar a ponta da orelha de Richard. Ficam na miséria e são ajudados por Phillip na venda de lã. Assim torna-se uma grande comerciante e passa a financiar Richard para lutar por Estevão contra Matilde e tornar Conde de Shiring, conforme prometera ao pai em sua cela. Casa-se com Alfred, após perder tudo no incêndio provocado por Willian no Mercado de Kingsbridge, para que ele financie a Richard. Seu casamento é amaldiçoado por Ellen e não consegue consuma-lo. Fica grávida de Jack, dando a luz a Tommy no desmoronamento do teto da Catedral construída por Alfred.
Richard – filho do primeiro Conde de Shiring, Bartolomew, tem sua orelha contada por Walter a mando de William. Com a prosperidade da irmã passa a escudeiro e depois a cavaleiro nas lutas ao trono entre Estevão e Matilde. Após a irmã perder tudo faz um acordo com Alfred, ele casaria com Aliena e financiaria os homens de Richard. Com o acordo entre Estevão e Henrique, passa a ser Conde de Shiring, reuni os homens da floresta (os foras da lei) e consegue tomar o Condado de Willian. Quando visita sua irmã em Kingsbridge e vê Alfred preste a cometer o mesmo desatino de Willian, mata-o e como penitência vai lutar nas Cruzadas. Deixando Aliena cuidando de suas propriedades. Morra num terremoto no estrangeiro. Suas propriedades são passadas a Tommy.
Percy de Hamsleigh – torna-se Conde de Shiring, após a captura de Bartolomew por seu filho Willian e seus homens. No passado ajudou a enforcarem Jack de Shareburg.
Regan de Hamsleigh - é descrita como uma pessoa repugnante de se olhar, pois possui o rosto coberto de furúnculos ao qual vive tocando o tempo todo. Ela é o cérebro da família.
William de Hamsleigh – filho de Percy e Regan, é rejeitado por Aliena. Captura Bartolomew depois da invasão do castelo do conde. Após seu pai se tornar novo Conde de Shiring vai ao castelo estupra Aliena e corta a ponta da orelha de Richard, irmão de Aliena e filho de Bartolomew. É manipulado pelo Bispo Waleran na luta pelo papado. Luta ora do lado de Estevão ora do lado de Matilde. Tenta prejudicar Aliena e o prior Philip. Depois de matar o arcebispo Tomás Becket é enforcado.

Povo
Tom Construtor – pai de Alfred e Martha, casado com Agnes, que esta grávida. Sonha em construir uma catedral, o trabalho de uma vida. Após a morte de Agnes, passa a manter relação com Ellen e a construir a Catedral de Kingsbridge, na direção do Prior Philip. Até ser morto no ataque de Willian Hamsleigh a feira de lã de Kingsbridge, então Conde de Shiring.
Agnes – primeira mulher de Tom Construtor, mãe de Alfred e Martha, dá a luz ao bebê no caminho de Winchester, com ajuda de Tom, mais sua placenta não saiu completamente e ela morreu durante a noite.
Alfred – Filho de Tom e Agnes. Ajuda seu pai a construir Catedral de Kingsbridge. Após a construção de uma igreja menor em Kingsbridge pede Aliena em casamento, que recusa, mas tem que reconsiderar após perder tudo que tinha no incêndio provocado por Willian Hamsleigh no mercado de Kingsbridge, para poder financiar seu irmão Richard e seus homens a lutarem por Estevão, contra Matilde. Seu casamento é amaldiçoado por Ellen, mãe de Jack, e o qual não é consumado. Após ter traído Jack e vai construir uma Catedral em Shiring, volta e tenta estuprar Aliena e é morto por Richard.
Martha – Filha de Tom e Agnes. Pega afeição por Jack e Ellen. Torna-se cunhada de Aliena. Quando Jack volta a Kingsbridge volta para a mesma casa e mantém Martha como sua governanta, a qual ajuda Aliena com as crianças.
Jack de Shareburg – ele era muito jovem, tinha uma aparência não muito usual, sua pele era muito branca, como a neve e cabelo cor de cenoura. É enforcado, após sua captura na praia, acusado de roubo de um mosteiro pelo Prior James, Percy de Hamsleigh e o arcediago Waleran Bigod. É o único sobrevivente do navio Ship White. Ellen é sua única amiga, por falar francês e o ensina a falar inglês, ela fica grávida de Jack.
Jack Jackson – filho de Jack, o Menestrel, possui o cabelo cor de cenoura como seu pai. Após a convivência com a família de Tom e após ter incendiado a velha igreja, Jack, pega gosto pela construção da catedral. Ele também é apaixonado por Aliena, que casa com Alfred para poder cumprir a promessa que fez ao pai, de fazer Richard Conde de Shiring, mas eles fazem amor antes do casamento e ela fica grávida. Após um período longe de Kingsbridge, Jack reencontra Aliena, que vai procurá-lo no estrangeiro, ao mesmo tempo em que conhece a família de seu pai e trás para Kingsbridge a imagem da madona que chora, que recebera de um sarraceno convertido.
Tommy – filho de Aliena e Jack, tem cabelos cor de cenoura como os do pai e olhos azuis brilhantes, não se interessa pela construção da Catedral como pai. Após a morte do tio Richard torna-se o novo Conde de Shiring.
Sally – filha caçula de Aliena e Jack, tem cabelo escuro como a mãe, interessa pela arte da vidraçaria, ao qual decora a Catedral.

Proscritos
Ellen – vive na floresta como os foras da lei. Tem um filho muito parecido com o pai, Jack, que é enforcado sem saber do motivo para isso, Ellen roga uma praga para os três homens que testemunharam em falso: James, o prior de Kingsbridge, Percy Hamsleigh e Waleran Bigod, futuro bispo de Kingsbridge. Ellen vai viver com Tom Construtor e Jack toma o mesmo gosto pela construção de catedrais. Ela também roga uma praga no casamento de Aliena e Alfred e vai embora de Kingsbridge e passa a viver na Floresta. Ajuda Philip a provar inocência da acusação de nepotismo e fornicador, revelando os verdadeiros pais de Jonathan.

Cenário
Monteiro St-John-in-the-Floresta - This is the name of the small monastery where Philip is sent when he is first given the rank of prior.nnnnnnome do pequeno mosteiro monoteísta e isolado na floresta dirigido por Philip.He quickly improves the fortunes of the monastery and sets his monks to work making goat cheese, which becomes a delicacy in larger priories like Kingsbridge. Ele rapidamente melhora as condições do mosteiro através do trabalho árduo e das orações, tornando-se auto-suficiente e ativo.Priory of KingsbridgePriorado de Kingsbridge - No início do romance, esta prioridade está em mau estado de ruína. Once..... Depois Philip, assume como o novo prior e começa a construção da catedral. Com o movimento de fiéis o Priorado ganha áreas de cidade com comercio, casas novas e uma igreja menor.
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A Análise

No livro Os Pilares da Terra/The Pillars of the Earth o leitor vê todos os eventos através do presente momento, apesar de ser um romance histórico que tem um período definido. No caso, o período compreendido como Idade Média, Idade das Trevas ou Espessa Noite Gótica, por ser vista como um período de barbaria, ignorância, superstição, flagelo e ruína pelos estudiosos do século XVI – guiados pela luz da razão do Iluminismo - que teria sido uma interrupção no progresso humano, inaugurados pelos gregos e romanos e retomado pelos homens do século XVI. No século XVIII, período antiaristocrático e anticlerical, acentuou-se o menosprezo à Idade Média, vista como o momento áureo da nobreza e do clero. No Romantismo da primeira metade do século XIX o preconceito se inverteu, passou a ser vista como época da fé, autoridade e tradição no momento um remédio à insegurança e aos problemas decorrentes de um culto do cientificismo. Foi somente no século XX que passou a ver a Idade Média com os olhos dela própria. Assunto de Hilário Franco em seu livro Idade Média: O nascimento do Ocidente.
A história de Follet inicia-se em 1123 e finda em 1174. Cerca de 50 anos de acontecimentos da História da Inglaterra - guerra civil travada para conquista do trono da Inglaterra; as movimentações políticas e religiosas entre o clero e a nobreza que tem como ponto culminante o assassinato do Bispo Thomas Becket a mando do Rei Henrique II – que encontrava em um constante estado de convulsão social.
Os personagens (aristocracia, clero e povo) gravitam em torno da construção da catedral de Kingsbridge cujo priorado, é dirigido por Philip. Sendo através dessa construção surge um painel dos tempos conturbados, varridos pela guerra civil recheada de conspirações, jogos labirínticos pelo poder, além de muita violência - mortes atrozes, assassinatos banais, matança de crianças, violações (estupro) - são cometidas à vista de todos.
Apesar de existir várias aldeias ou cidades pequenas na Grã-Bretanha chamadas de Kingsbridge, a do livro é ficção. No inicio do livro ela é uma pequena aldeia que durante o transcorrer da história, prospera, com a construção da catedral e a expansão do comércio, em especial a de lã, alcança ares de cidade.
A Catedral é o centro do livro, tudo ocorre no seu entorno, por isso é necessário definir “catedral”. A “cátedra” é o trono do bispo e, portanto, uma igreja catedral tem o trono do bispo dentro. E assim as catedrais são as igrejas principais de um bispado ou de um arcebispado, que são geralmente maiores e mais ricamente construídas. Os arcediagos são, na Igreja Medieval, sacerdotes dignitário das sés que secundava o bispo nos ofícios junto com o chantre (funcionário eclesiástico que dirige o coro) e o diácono (clérigo no segundo grau das ordens maiores, imediatamente inferior ao presbítero, ou padre). O prior é o superior de convento, em algumas ordens monásticas – foi São Bento que traçou uma regra, dando uma forma à vida monástica dos ermitões (ermo – desertos) que atuavam sozinhos e passam a ser organizar em pequenos grupos. São Bento, dividiu o dia do monge em 7 momentos de oração, mais o trabalho manual (penitência) e produção do alimento. Na Inglaterra muitas catedrais medievais faziam parte de um mosteiro ou priorado, o que levava a disputa entre o bispo e o prior, a qual faz parte do conflito do livro.
Abaixo uma análise de Os Pilares da Terra através da estrutura apresentada por Hilário Franco Junior no o livro A Idade Média: O Nascimento do Ocidente.
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Estruturas Demográficas

Para Hilário Franco a Idade Média estava no Antigo Regime Demográfico, ou seja, uma sociedade agrária, pré-industrial com alta taxa de natalidade e alta taxa de mortalidade. Por essa razão, quando ocorriam certas conjugações de fatores - estiagens, enchentes, epidemias - alteravam o quadro demográfico elevando a mortalidade. Ou, pelo contrário, a ausência de eventos daquele tipo rapidamente produzia um saldo populacional positivo.
Nos Pilares temos uma mudança na demografia com a construção da Catedral que passa a atrair mais pessoas para comercializar e viver em Kingsbridge.
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Estruturas Econômicas

Economicamente os homens do medievo estavam divididos em torno de duas partes, de acordo com a descrição de Franco Junior,
“a primeira, chamada na época de terra indominicata (ou de reserva senhorial pelos historiadores), era explorada diretamente pelo senhor. Ali estava sua casa, celeiros, estábulos, moinhos, oficinas artesanais, pastos, bosques e terra cultivável. A segunda parte era a terra mansionaria, ou seja, o conjunto de pequenas explorações camponesas, cada uma delas designada pelos textos a partir do século VII por mansus. Cada manso era a menor unidade produtiva e fiscal do domínio. Dele uma família camponesa tirava sua subsistência, e por ter recebido tal concessão devia certas prestações ao senhor. Os mansi serviles, ocupados por escravos, deviam encargos mais pesados que os mansi ingenuiles, possuídos por camponeses livres”.
A produção agrícola não era tão diferente da agricultura da Antigüidade. Para Franco, “a terra era trabalhada quase sempre no sistema bienal ou trienal”. O excedente por não terem como estocar era comercializado através de uma medida de valor, troca, e depois pela moeda, por não ser ela própria consumível, e por sua grande aceitabilidade.
A moeda é corrente no livro de Follet. Eram utilizadas no comércio dos mercados de Shiring e de Kigsbrigde. Eram, também, recolhidas no pagamento de impostos e entrega como escola nas igrejas.

Estruturas Políticas
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“Hicmar, arcebispo de Reims determina que o rei deve agir de acordo com a vontade de Deus, que é o verdadeiro Rei dos reis. Deus se manifesta através do clero que reconhecem sua vontade profundamente, portanto eles devem orientar o monarca. Tal imposição da igreja, acaba por enfraquecer o monarca, este então, será manipulado”. (Franco Jr. Pág 114-115).
O monarca – Rei – tinha inquestionável caráter sagrado, como descreve Hilário, “todo rei para ser visto como tal precisava ser submetido ao rito de unção com óleo, sacralizava o monarca, tornando-o um eleito de Deus”.
Como o território era extenso e as terras ficavam em centenas de condados, eram dirigidas por um conde que era nomeado pelo governante. Segundo Franco,
“o conde representava o poder central em tudo, publicando as leis e zelando pela sua execução, estabelecendo impostos, dirigindo trabalhos públicos, distribuindo justiça, alistando e comandando os contingentes militares, recebendo os juramentos de fidelidade dirigidos ao imperador. Em troca recebia uma porcentagem das taxas de justiça e, sobretudo terras entreguem pelo soberano”.
Em várias partes de Pilares vemos a manifestação da força do clero perante o monarca e do monarca perante o clero. Estevão só se torna Rei da Inglaterra com ajuda da Igreja, na figura de seu irmão Henrique, bispo, que o reconheceu como o escolhido de Deus para governar o povo inglês. Na outra extremidade, quando Henrique, filho de Matilde, assume o trono inglês não entra em acordo com o Bispo Thomas, expulsando da Inglaterra, e conspirando para sua morte. O rei não ganha mais poderes com a morte do bispo Thomas e acaba tendo que se submeter, ao julgamento e penitência, do clero.
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Estruturas Eclesiásticas

De acordo com Hilário Franco Jr., a organização da hierarquia eclesiástica na Igreja da Idade Média visava à consolidação da recente vitória do cristianismo; a seguir, com a aproximação com os poderes políticos foi garantida maiores possibilidades de atuação; e na terceira fase o corpo eclesiástico separou-se completamente da sociedade laica e procurou dirigi-la. Todo homem poderia realizar os ofícios religiosos, orientar quanto aos dogmas, realizar obras sociais, combater o paganismo, até que no século IV, determinou-se que somente homens livres poderiam ingressar no clero. Eles eram sustentados por esmola doadas pelos fieis. O celibato não era obrigatório, mais recomendado até que, conforme Hilário, no “no sínodo de Elvira em 306 proibiu o casamento aos clérigos sob pena de destituição”.
Havia então, segundo o livro Idade Média: O nascimento do Ocidente, os clérigos que ministravam sacramento, orientavam espiritualmente e ajudavam os necessitados e os que buscavam a servir a Deus vivendo em solidão, como os monges, que estavam orientados a vida monástica pela trilogia castidade, pobreza e obediência, como os beneditinos. Os Bispos, participavam do conselho real, tendo os cânones força de lei. O monarca também poderia presidir os sínodos. Apenas o Papa poderia canonizar os santos.
Mesmo com a forte presença da Igreja, que era considerada a cabeça e os cristãos os membros de um corpo, formando uma unidade. Qualquer divergência teológica em torno das coisas da fé representava perigo para a Igreja. Assim qualquer tipo de divergência ou contestação das orientações da Igreja era considerado crime de heresia – palavra de origem grega e significa escolher. Assim discordar das normas, dos dogmas ou das doutrinas estabelecidas pela Igreja equivalia a cair em heresia, tornando os hereges criminosos não apenas aos olhos dos representantes da Igreja, mas também aos olhos dos príncipes, reis e senhores feudais. As penas variavam dependendo da gravidade das idéias heréticas ou da influência que exerciam junto à população. A forma mais dura da punição era a excomunhão, pela qual se excluía o herege da condição de cristão, entre as mais brandas uma peregrinação aos lugares santos para pagar os pecados, já para os persistentes, as penas poderiam ser o confisco dos bens, a prisão e a condenação à morte na fogueira. Como heresia no livro, Follet, descreve as pragas de Ellen contra Waleran, James e Percy, no episodio da morte do pai de Jack; contra Philip ao urinar no livro das regras de Santo Afonso; e no casamento de Alfred e Aliena. Sendo que no segundo caso, Philip, a absorvem depois de uma punição, e quando ocorre a última, Ellen se retira de Kingsbridge e volta à floresta.
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Estruturas Sociais
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“A lei humana impõe duas condições, o nobre e o servo não estão socialmente no mesmo regime. Os guerreiros são protetores da Igreja. Eles defendem os poderosos e os fracos, protegem o mundo, inclusive a si mesmos. Os servos por sua vez têm outra condição. Essa raça de infelizes não tem nada sem sofrimento. Fornecer a todos roupas e mantimentos, eis a sua função sempre. A casa de Deus que parece una é tripla. Uns rezam, outros combatem, e outros trabalham. Todos os três formam um conjunto que não se separa, a obra de uns, permite o trabalho dos outros dois e cada um por sua vez presta apoio aos outros dois”. ( Franco Jr. p.71)
A Igreja e o Estado, que no livro é o Rei, são historicamente ligados entre si. A história européia está repleta de lutas de poder entre a Igreja e o Estado, elas eram e continuam sendo, em alguns casos, entidades que regulam a sociedade. Na Inglaterra do século XII, onde a história está definida, tanto a Igreja quanto o Estado, tinham o poder de criar, aplicar e julgar leis. Vale-se dessa crescente influência religiosa, a Igreja passou a exercer importante papel em diversos setores da vida medieval, servindo como instrumento de unificação, diante da fragmentação política da sociedade feudal.
“... a Igreja teve como objetivo alcançar a autonomia e, sobretudo – concretizando o agostinianismo político e impedindo que prosseguisse a sujeição aos leigos – passar a dirigir a sociedade” ( Franco Jr. p.7)
O clero (bispos, arcebispos e papa) oferecia varias respostas a partir de interpretações teológicas, apresentando o constante confronto entre Deus e os Homens, que ainda se mantinham preso a concepções antigas pré-cristãs (pagãs). Ocorre muitas vezes a manipulação dos homens pelos padres que, sabendo do temor a Deus, não se coíbem de mandar fazer tudo o que querem, para depois os perdoarem através da confissão. São apresentados como celibatário a exceção do pai da personagem Agnes, esposa de Tom Construtor, que era filha de um religioso.
O clero ocupa, assim, um papel relevante na sociedade feudal e no livro de Follet, destacando-se como servidores de Deus, detentores da cultura e administradores das grandes propriedades da Igreja, além da ação assistencialista aos desvalidos. Ao mesmo tempo, que procura legitimar o modo de agir da aristocracia, afirmando por vezes que Deus tinha distribuído tarefas especificas aos homens, uns rezavam pela salvação (o clero), outro deviam lutar para proteger o povo de Deus (a nobreza) e os outros deviam alimentar com seu trabalho tanto os que oravam e os que guerreavam (os camponeses).
Desse modo, os personagens desfilam pelas cidades, vilas e aldeias, castelos e abadias, até mesmo pela floresta que cercam as cidades, em especial pela construção da catedral.
Os nobres (reis, duques, marqueses, viscondes, barões e cavaleiros) habitavam os castelos, vemos isso quando Philip visita o rei Henrique e nas cenas do castelo do pai de Aliena e de Willian, que eram ao mesmo tempo, residência e núcleo de defesa contra os ataques de inimigos.
Eles procuram cercar-se de uma corte numerosa, com dezenas de comensais entre vassalos, parentes, amigos, cavaleiros, criados domésticos e artesãos (ferreiros, carpinteiros, tecelões, prateiros, ourives, curtidores, cervejeiros). Para tanto eles possuíam vários domínios. Vemos este ponto em vários trechos do livro de Follet, em especial quando Willian vai inspecionar e cobrar os tributos atrasados de seus vassalos, tomando a força quando diziam que a produção não fora suficiente, a ponto de matar e estuprar as mulheres. Eram esses tributos que asseguravam as despesas da nobreza. Rendimento que era gasto, por Willian, no treinamento do uso de armas, em duelos e caçadas, como a do Rei Estevão, que utilizava cães e cavalos amestrados.
Os camponeses estavam presos a terra, eram os labatores – palavra de origem latina que significa trabalhadores. Não possuíam a posse de lote ou manso. Ao morrer seu filho deveria pagar uma taxa de sucessão. Realizavam todo tipo de trabalho necessário à subsistência da sociedade. Produziam alimento, roupas e além de estarem presos a terra. A condição de servo impunha também a autorização para contrair matrimônio. Cena descrita no livro, quando Willian, cobra os impostos da pesagem do trigo e descobre que o seu servo contraiu matrimônio sem sua autorização.
A relação de poder do senhor e dos servos, impiedosas quando aparecia a figura de Willian e prosperas quando Aliena administra as terras de Richard, eram tidas como natural. Temos na Idade Média, a ideologia que os homens são naturalmente desiguais. Ter nascido servo ou nobre era responsabilidade de Deus, logo, tinha caráter inquestionável.
Ainda tinham os escravos, os vilões, homens livres, que trabalhavam para os senhores mais não eram servos – não estavam ligados a terra; e uma população urbana formada por pequenos mercadores e artesões. No primeiro grupo temos, no Pilares, os homens que lutam com William na guerra de Estevão e Matilde, no segundo grupo, Aliena vai fazer parte quando se torna mercadora de lã.
“O crescimento demográfico em função das novas técnicas de produção (sistema trienal, nova atrelagem animal e charrua) e tendo como conseqüência um excedente agrícola e disponibilidade de mão-de-obra, fortaleceu-se o comércio acabando por deslocar grande parcela da população do campo para pontos de comércio ou pequenas vilas que se desenvolviam a cada dia em virtude do intenso fluxo comercial que se fortalecia, algumas cidades surgiam do nada. Essas cidades faziam um intercâmbio com o campo através de trocas, em que ofereciam alguns bens por alimentos e matérias-primas. A construção e a produção têxtil (panos de lã) formaram as maiores indústrias medievais. A construção crescia em função da mentalidade ostentória do clero e da aristocracia laica. Em Champagne, centro francês, ocorriam seis feiras anuais que atraíam negociantes de toda a região, incluindo italianos e nórdicos”. (Franco Jr. p.52 – 53).
Vemos a construção de vassalagem entre o Rei Estevão, o Prior Philip e Percy de Hamsleigh quando o primeiro doa a exploração da floresta e da pedreira para construção da Catedral e posse das propriedades a Percy.
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Estruturas Culturais
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Segundo Franco Júnior, “a cultura era entendida como uma criação intelectual realizada por ‘grandes homens’, mais ou menos desvinculados do contexto histórico. E também como uma criação letrada, pois mesmo as artes, essencialmente visuais, pressuporiam certo conhecimento para ser ‘compreendidas’”.
A cultura erudita, letrada, era transmitida nas escolas monásticas, catedralícias e nas universidades, enquanto que a cultura vulgar, como prefere Hilário, era transmitida oralmente nas casas, ruas, praças etc., através de idiomas e dialetos vernáculos.
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Estruturas Cotidianas
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Como foi marcado na historiografia até princípios deste século levava à desconsideração dos “pequenos fatos”, dos eventos do dia-a-dia, repetitivos, sem uma influência clara e direta sobre os “grandes fatos”, faremos menções sobre esses fatos – tempo, alimentação, moradias, vestimenta entre outros.
Sobre a passagem do tempo, segundo Hilário Franco Júnior:
“a Idade Média não se interessava por uma clara e uniforme quantificação do tempo. Como na Antigüidade, o dia estava dividido em 12 horas e a noite também, independentemente da época do ano. (...) Apenas o clero, por necessidades litúrgicas, estabeleceu um controle maior sobre as horas, contando-as precariamente de três em três a partir da meia-noite (matinas, laudes, primas, terça, sexta, nona, vésperas, completas)”.
Temos apresentado na narrativa de Follet, o dia e a noite, que era dessa forma reproduzido, independente da época do ano, por não terem uma precisão do tempo, o ritmo era visível pela natureza – sol, lua e estações.
Sobre a alimentação, segundo Franco Júnior, a Europa Medieval consumia os mesmos alimentos e bebidas sendo preparados quase da mesma maneira. E continua dizendo que “os legumes e verduras não estavam muito presentes, porque, sendo considerados produtos pouco nobres e de digestão difícil, ficavam reservados para os dias de jejum”. A base da alimentação aristocrática, segundo Franco Júnior, seria carnívora, “carnes de animais domésticos, vaca, vitela, carneiro e, sobretudo, porco. Carne de caça, especialmente cervo, javali e lebre. Carne de aves, galinha, pato, ganso, cisne e pombo. Carne de peixe de água doce”. A bebida para acompanhar seria o vinho. A burguesia procurava imitar a aristocracia. Dos camponeses estavam baseadas nos cereais, que cultivavam, “cereais preparados sob a forma de papas e minguas e especialmente pães”.
Há no livro Pilares, várias passagem das refeições realizadas pelos personagens. O pão está presente em todas elas, da mesa do povo à mesa do Rei. À percepção da diferença nos outros pratos. No mosteiro de Philip é servido carne só para quem trabalha duro e apenas uma vez ao dia, aos outros é servido uma sopa dos vários cereais cultivados, aqui como nos lares de Tom e Jack, a bebida é a cerveja, em que muitas vezes é molhado o pão. Há outro trecho do livro em que Ellen e Tom servem aos filhos couro de servo seco, para enganar a fome.
Sobre as moradias, Hilário diz que “apresentava grandes variedades regionais, resultantes das necessidades impostas pelo clima e das possibilidades permitidas pelos materiais de construção de cada local”. Follet relata a construção da Catedral com pedras, extraída da pedreira de Shiring, e a estrutura de madeira, proveniente da floresta de Shiring. Assim como as casas dos camponeses de Kingsbridge eram de madeiras.
As vestimentas por Hilário “base do vestuário foi à túnica de mangas (...) até o tornozelo para as mulheres e até os joelhos para os homens. (...) O calçado podia ser bota de couro de cano alto para os ricos ou simples sapatilha de tecido para os mais pobres”.
Essa representação está diluída por todo o livro de Follett. Os clérigos como Philip utilizavam túnicas de tom sóbrio, clérigos como Henrique e Waleran utilizavam túnicas alegres, além de mantos suntuosos. O homem aristocrata, como Willian, utilizava sobre a túnica manto ou capa e botas de animal. Os camponeses quando utilizava calçado eram de couro. Ellen se vestida com couro dos animais que caçava. E os homens de Estevão e Matilde, bem como os de Willian e Richard, trajavam cotas de malhas – túnica feita de pequenos anéis, de ferro ou aço, parecida com uma camisa que adere ao corpo por um cinturão, desce até os joelhos e aberta na frete e atrás para facilitar a subida no cavalo-, alguns utilizavam armaduras – feitas de ferro para proteção do corpo juntamente com o elmo para a cabeça -, empunhavam espada – composta pela lamina, punho e o botão de punho -, lanças – arma de estocadas, tem cerca de três metros de comprimentos e pesa dois quilos, o que impede de ser arremessada, podendo ser feita de macieira, abeto ou outra madeira resistente – e para proteção escudos – tem forma de uma grande amêndoa que se curva ao longo de seu eixo vertical e termina numa ponta que possibilita fixa-lo no chão e utiliza-lo como abrigo.
Hilário Franco Júnior descreve os medievos como pessoas sem lazer:
“levavam uma vida dura, os clérigos passando muitas horas por dia em orações, estudo e tarefas cotidianas de sua diocese ou mosteiro, os senhores laicos em exercícios militares e administração de seu senhorio, os burgueses em difíceis negociações e perigosas viagens, os camponeses num trabalho pesado e de retorno nem sempre compensador”.
Essa descrição em Pilares só é quebrada por Jack e Marta que quando crianças são descritas em momentos de brincadeiras.
A morte no medievo é descrita por Hilário como uma “visão natural, tranqüila”, ainda mais para os cristãos que procuravam se preparar sendo “(...) morrer inesperadamente, sem ter confessado, recebido os sacramentos, feito doações e esmolas, estabelecidos em testamento”.
A uma boa cena feita por Follet, quando Willian é avisado por seus empregados que sua mãe estava no leito de morte, em sua prostração e desespero, não toma nenhuma providência, percebe a chegada do padre após a morte de sua mãe e a passagem dela para a vida eterna comprometida por não ter recebido a extrema unção e confessado seus pecados para obter a absorção.
Em relação ao matrimônio no medievo, conforme Hilário Franco Jr. “é uma relação monogâmica” e a virgindade “tornou-se um grande valor, seguindo os modelos de Cristo e sua Mãe”, imposta pela Igreja, mais que segundo Hilário, os medievos que encontravam mais afastados dos centros clericais (sedes de bispados e mosteiros), possuíam uma vida pagã, não seguindo necessariamente os dogmas da Igreja. E quando a aristocracia foi atingida pelas transformações como dificuldades econômicas, que arruinou varias famílias nobres o que, segundo Franco Junior, culminou em:
“(...) casamentos por conveniência, ocorria então um aburguesamento das famílias nobres e também um enobrecimento das famílias burguesas, fato que acabou por considerar a nobreza também responsável pela mobilidade social”.
Follet mostra esse relato, primeiro quando Willian tenta a corte mais é recusado por Aliena, com o possível casamento entre sua família e a do Conde de Shiring, sua família acenderia junto à nobreza, depois quando sem alternativa, Aliena, tem que aceitar a união com Alfred, num casamento de conveniência e interesse, para que usufrua as posses de Alfred em favor de seu irmão Richard.
“A valorização da mulher crescia ao passo em que o culto à Virgem Maria ganhava força. Na literatura trovadoresca, desenvolviam-se as cantigas de “amor” e de “amigo,” cuja quais reverenciavam as mulheres amadas” (Franco Jr. Pág. 82). Aqui podemos citar as cantigas que Jack recita para Aliena na clareira e sua união por amor mais tarde.
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Estruturas Mentais
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Para o homem medieval, como sugere Hilário, “o referencial de todas as coisas era sagrado, fenômeno psicossocial típico de sociedades agrárias, muito dependentes da natureza e, portanto, à mercê de forças desconhecidas e não controláveis”.
O ensinamento, nessa sociedade iletrada, ficava em parte com a Igreja, onde o sermão do pároco constituía a principal fonte de informação sobre os acontecimentos e os problemas comuns, além da orientação da conduta econômica e espiritual. Uma das ferramentas desse ensinamento da Igreja são os santos, que eram homens, dotados de qualidades excepcionais e por esse motivo foram elevados aos céus. Eles teriam poder de realizar milagres muito especiais, como curar doentes, salvar a colheitas em mau tempo. E por causa disso eram canonizados – reconhecidos oficialmente – pelo Papa. Ao lado dos santos existiam as relíquias, o homem do medievo acreditava que a posse de fragmentos do corpo, das vestes ou objetos pertencentes a Cristo, à Virgem Maria ou aos santos poderiam curar, proteger ou auxiliar quem os tivesse. E dessa forma quando Jack adentra a Igreja de Kingsbridge com a Madona que chora, ocorre a veneração da imagem e o milagre da fala. Em outro ponto Philip ínsita o culto as vestes do bispo Thomas Becket, que fora morto como santo e canonizado pouco tempo depois.
Outro ponto do livro verificado é que as crianças eram misturadas aos adultos para aprender a vida diretamente, através do contato com eles. Vemos claramente este aspecto quando Ellen deseja viver com Tom Construtor para que Jack tivesse contato com outras pessoas para apreender com elas. Quando elas alcançavam certa idade, nas cidades, eram empregadas como aprendizes pelos mestre-artesão, ou no caso de Jack e Tom, pelo mestre-construtor. Os mestres detinham o saber sobre a profissão, bem como todo aparato – ferramentas. Os aprendizes sem o saber ou com um saber limitado eram empregados nas tarefas auxiliares dos mestres, no intuito de aprendizado. Na relação de Tom e Jack, mestre e aprendiz, são entusiastas da paixão na construção da catedral, o conhecimento é transmitido e o aprendizado se realiza. Aqui temos outro ponto do trabalho medieval, entre aprendizes e mestre, que é realçado quando Tom coloca Jack como seu aprendiz, as relações familiares. O pai colocava o filho como aprendiz para que quando morresse o filho tornar-se-ia mestre.
Quando Richard mata Alfred, quando este tenta estuprar sua irmã Aliena, se declara culpado perante o prior Philip e este como indulgência, perdão dos pecados e a posse do céu, vai lutar nas cruzadas – expedição militar conhecida como cruzado, pelos missionários usavam uma veste com a cruz de pano, cujo objetivo oficial era conquistar os lugares sagrados do cristianismo que estavam em poder dos muçulmanos e turcos. Além das indulgências, a Igreja concedia também privilégios materiais – suspensão de dívidas e a administração de bens durante a guerra. Vemos que guerra era o ápice do cavaleiro, que havia se preparado durante toda a sua vida. A caça e os torneios eram simulações do que aconteceria num campo de batalha. O vencedor se apropriava dos pertences do derrotado, e por vezes pilhava o patrimônio do derrotado incorporando ao seu próprio patrimônio. Temos várias narrações desse fato nas batalhas de Willian.
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Conclusão
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Ao traçar um paralelo entre as obras “Os Pilares da Terra” de Ken Follett e “A Idade Média: o Nascimento do Ocidente” de Hilário Franco Júnior, facilmente encontramos a linha de raciocínio utilizada por Ken Follett ao compor com destreza sua obra, dotando-a de magia que envolvia as grandes construções medievais e de todo um contexto, pois ao passo em que se desenrola a trama, extraímos dela pinceladas de veracidade que nos revelam a história e as relações sociais vividas no período da Idade Média, mais precisamente no século XII.
Ambos autores, Follet e Franco Jr., trabalham com uma linguagem de fácil compreensão, sendo as mesmas acessíveis para uma interpretação efetiva desse período.
Para Hilário, mesmo se tratando a Idade Média um período popularmente pouco compreendido, ela está inserida na constituição dos povos ocidentais, incluindo aqui, nós, da América, que não tivemos um período propriamente medieval, entretanto, apresentamos inúmeros traços: idioma; governos; instituições como o julgamento por júri e haveas corpus; sistema bancário; universidades; música e os romances. Todos oriundos deste contexto.
E é justamente nesse paralelo traçado entre esses autores, que podemos fomentar nossos estudos sobre o medievo, entendendo como se mesclam ficção e realidade e sendo capazes também de determinar seus limites, resultando numa compreensão efetiva e facilitada do período.
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Bibliografia
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Biografía de Ken Follett. Acessado em 20.10/2008 no site http://www.ken-follett.com/bibliography/the_pillars_of_the_earth.html.

FOLLETT, Ken. Os Pilares da Terra. Vol. 1. Editora Rocco.

FOLLETT, Ken. Os Pilares da Terra. Vol. 2. Editora Rocco.

FRANCO JR., Hilário. A Idade Média: O nascimento do Ocidente. São Paulo: Brasiliense, 2001.

PROJECTO MULTIVERSUM. Literatura Portuguesa. Acessado em 25/11/2008 no site http://web.educom.pt/multiversum/mtvgr2/literatura/O%20Poder.htm.

11 de abr. de 2009

Dúvidas da Fé

Ontem, sexta-feira santa, o dia alusivo à crucificação de Cristo. Então, fui com toda a família a Igreja do Divino Espírito Santo, no CPA II.
Minha filha mais velha ficava fazendo várias perguntas sobre cada passo que era dado na celebração e, eu, na medida do possível e de meus parcos conhecimentos, respondia. Bem, tem alguns meses que era terminou a Catequese e realizou sua 1ª Comunhão, mais dá a impressão que não ensinam os ritos, que a principio só tem que ser repetido.
É comum ver várias pessoas realizando de forma automática os ritos de uma missa, sem saber ou entender cada parte.
Um dia também me fiz, e ainda faço, perguntas a respeito de cada coisa, de cada gesto, me reservo o direito de concordar ou não, de fazer ou não, não gosto de fazer as coisas porque os outros dizem que tem que ser feito, gosto de saber o significado. Um dos motivos que digo que a minha fé é só minha. Nasci e me criei na Igreja Católica e tenho amigos de todas as religiões e de religião nenhuma. Alguns conversamos sobre religião a outros não, porque respeito a decisão deles como gosto que respeitem a minha.
Mas voltando as perguntas que me fiz e fiz a algumas pessoas, fui presenteada com o livro “O que o povo pergunta?” do Pe. Artur Betti, por um amigo da Pastoral Carcerária, o Eudes. E é com esse livro que tirei algumas dúvidas, mesmo que para algumas perguntas ainda procure respostas...

Então vou ‘brincar’ de pergunta ao Pe. Artur Betti e ele me responderá através do livro. Então vamos lá...

Löhnhoff - Qual o sentido do sinal da cruz?
Pe. Arthur - 1º - Consagramos à Santíssima Trindade – Pai, Filho e Espírito Santo – toda a nossa vida, nosso trabalho, estudo, repouso e oração. Jamais professamos, com este gesto, a fé em um Jesus morto, como imaginam alguns, erroneamente.
2º - Lembramos, outrossim, no sinal da cruz, positivamente, a expressão máxima do amor infinito de Cristo, entregue por nós, desfazendo qualquer idéia falsa de um Cristo morto e derrotado, à moda pagã.
3º - Pedimos, igualmente, no sinal da cruz, que Deus nos livre de todos os maus pensamentos, das más palavras e dos maus desejos. E que, pela palavra do seu evangelho, nos abra a mente, os lábios e o coração para as boas ações.
Curiosidade: Conta-se que o famoso imperador romano Constantino (264-340 d.C.) teve esta visão, antes de uma batalha decisiva: viu, no céu, uma cruz, com a seguinte inscrição: “Com este sinal vencerás”. Adotou, então, a cruz como emblema de suas tropas e obteve a vitória.

L
- O beijo na cruz na sexta-feira Santa?
Pe. - Quando a mãe beija a fotografia da filha ausente, não estará beijando apenas um pedaço de papel, o que seria loucura; mas, por esse gesto e por meio da imagem fotografada, estará em união espiritual e afetiva com a pessoa querida, fisicamente distante.
O beijo na cruz nos lembra, então, mais profundamente, o quanto Cristo realmente sofreu, cheio de amor por nós, por causa de nossos pegados, e o quanto lhe devemos ser gratos.

L - Por que foi chamada a Igreja de “Romana”?
Pe. - Porque começou a criar corpo, a desenvolver-se em Roma, no tempo da perseguição aos cristãos, provando milhares de mortes, entre elas as de Paulo e de Pedro e de outros mártires, passando assim a Igreja a ser chamada de Romana. Além disso, o Papa trabalha e vive lá, onde então também as relíquias dos grandes apóstolos, sobretudo de Pedro, a pedra. Foi a partir de Roma, de fato, que a Igreja cresceu e se expandiu, passando a ser chamada de “Romana”.

L – E porque Católica?
Pe. – Cristo conferiu-lhe, sim, o conteúdo católico, ou seja universal, compreendido pelas palavras bíblicas: “Sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria e até aos confins da terra” (At 1,8). “Ide, pois, ensinais a todas as nações, batizando-as em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo” (Mt 28,19). Portanto, está bastante evidenciada a expressão “Católica” na palavra de Deus, que quer dizer “universal”. Foi usada no inicio do cristianismo, por Santo Inácio de Antioquia, escrevendo “à Igreja de Esmirna” (Ap 2,8), por volta do ano 110: “Onde quer que se apresente o bispo, ali esteja a comunidade; assim como a presença de Cristo Jesus também (o bispo) nos assegura a presença da Igreja Católica...” (Carta de Santo Inácio de Antioquia aos esmirnense 8,20; Fontes da Catequese/2, pág. 81; Vozes, 1970).

L – Qual o sentido da bênção papal?
Pe. – “O Senhor teu Deus os escolheu para abençoarem em nome do Senhor” (Dt 21,5); “Abençoarei os que te abençoarem, amaldiçoarei os que te amaldiçoarem” (Gn 12,3); “A salvação vem do Senhor sobre o teu povo seja a tua bênção” (Sl 3,8); “para que a bênção de Abrão chegasse aos gentios por Jesus Cristo, e para que pela fé nós recebamos a promessa do Espírito” (Gl 3,14). O Papa, ao dar a bênção, no Vaticano ou a visitar uma nação, o faz com o sentido da parábola do semeador, cujas sementes caíram em diversos terrenos (Mt 13, 1-23).

L – O que são imagens como as de Maria, comumente chamadas de Nossa Senhora?
Pe. – Imagem, segundo a própria palavra (terminologia) está dizendo, é objeto que faz lembrar alguém, alguma coisa mais longe dela mesma. A imagem sacra recorda uma pessoa santa, alguém que viveu a fé. Nunca a imagem é um ser em si mesmo (aí deixaria de ser imagem, passaria a ser realidade). Eis algumas imagens que Deus mandou fazer: “Farás também dois querubins de ouro: de ouro batido os farás, nas duas extremidades do propiciatório. Farás um querubim na extremidade duma parte; e o outro querubim na extremidade da outra parte: de uma só peça com o propiciatório fareis os querubins nas duas extremidades dele. Os querubins estenderão as suas asas por cima, cobrindo com as suas asas o propiciatório” (Ex 25, 18-20). “E nas placas de pedras e nas suas colunas de pedras fez querubins, leões e palmas, e no espaço de cada placa grinaldas em redor” (1Rs 7,36). “Moisés fez, pois, uma serpente de bronze e fixou-a sobre um poste. Se alguém era mordido por uma serpente se olhasse para a serpente de bronze era salvo” (Nm 21, 8-9). Realmente, a Igreja aprendeu de Deus e copiou da Bíblia o hábito de fazer imagens de anjos ou de santos. São, assim, simples representações para lembrar alguém fora delas, além delas. O homem também foi feito à imagem e semelhança de Deus, sem passar por ídolo ou falso Deus (Gn 1,26; Gn 9,6).

L - Qual o sentido dos padrinhos no batismo católico?
Pe. – No inicio do cristianismo, para alguém ser batizado, exigiam-se testemunhas para comprovar a boa vivência da família, fé familiar. Essas testemunhas passaram a ser padrinhos, como um maior grau de responsabilidade junto do afilhado. Padrinho deve ser uma pessoa com boa base cristã, para servir de exemplo ao recém-batizado. Eles são benfeitores, na oração pelos afilhados, animando-os e ajudando-os.

L – Me faça uma explanação da oração da “Ave Maria”?
Pe. – Em sua primeira parte, ela se inicia com a saudação do anjo Gabriel e se conclui com a exclamação de Isabel. Já, a segunda parte, é de origem eclesial, expressando um verdadeiro espírito bíblico. Vejamos: “Ave, cheia de graça, o Senhor é contigo” (Lc 1,28); “Bendita és tu entre as mulheres e bendito o fruto do teu ventre” (Lc 1,42). Quando uma mulher dá à luz, ela não gera a alma da criança; mesmo assim, nós a chamamos de mão do bebê todo, e não só do seu corpo, da sua carne. Maria, da mesma forma, dando natureza humana à natureza divina de Jesus, que é Deus, torna-se a mãe da pessoa de Jesus Cristo, na plenitude de seu ser humano e divino. A recitação do Terço do Rosário, valiosíssima prática da piedade católica, no desfiar das Ave-Marias, remete-nos continuamente à Bíblia, da qual brotam todos os mistérios da vida e da obra salvífica do Cristo Jesus: nascimento, vida, morte e ressurreição, meditados ao longo de todo o Rosário.

L – Já que estamos na Páscoa, porque ela muda de data?
Pe. – A páscoa muda de data porque os judeus a festejavam, e a festejam ainda hoje, sempre na primeira lua-cheia depois do dia 21 de março. E a lua muda. Também nesta época se comemorava o inicio do mês de Nisã para os judeus, com a festa dos agricultores. Jesus, que era judeu, seguia o mesmo costume: celebrou a “ceia pascoal” (Lc 22,15); morreu na “preparação da páscoa” (Jo 19,31) e ressuscitou no domingo seguinte, que veio a constituir na Páscoa dos cristãos. Se a primeira lua cheia, depois do dia 21 de março, acontecer logo em seguida ao dia 21, a Páscoa acontecerá cedo, tanto para os judeus como para os cristãos, ao contrário, se for mais tarde, tardará para ambos a festa.

(Fonte: Betti, Artur. O que o povo pergunta; ilustrador José Valmeci de Souza. Petrópolis, RJ: Vozes, 1993.)