2 de nov. de 2008

O Elo Perdido

"Quando se quer estudar os homens,
é preciso olhar perto de si;
mas para estudar o homem,
é preciso aprender a dirigir para longe o olhar;
para descobrir as propriedades,
é preciso primeiro observar as diferenças”.
(Jean Jacques Rosseau, Essai sur Iorigine dês langues, cap. VIII)


APRESENTAÇÃO

A presente dissertação volta seu foco de interesse na análise do filme, Man to Man, lançado no Brasil com o nome de “O Elo Perdido”, do diretor Régis Wargnier, de 2005.
Na promissora Edinburgo de 1879, o jovem médico escocês Jamie Dodd - Joseph Fiennes-, se aventura pela inexplorada África Equatorial na companhia da aventureira Elena Van Den End - Kristin Scott Thomas -, à procura de uma nova espécie. Ao encontar uma tribo de pigmeus, Jamie acredita ter achado o “elo perdido” que faria a ponte evolucionária entre o homem e o símio. Ele captura dois pigmeus para apresenta-los na Academia de Ciência de Edimburgo.
De volta à cidade na companhia de Toko - Lomama Boseki - e Likola - Cécile Bayiha -, o médico desentende-se com seus dois colegas de pesquisa, determinados a provar o elo perdido da espécie humana, os pigmeus são expostos no zoológico local e submetidos a apreciação pública.Assim, o filme retrata um pouco da sociedade moderna e seus conceitos científicos no final do século XIX, a partir da teoria da evolução de Darwin, montando o quebra-cabeça da evolução do homem a partir do macaco.
1. DADOS GERAIS

1.1 Ficha Técnica:

Título no Brasil: O Elo perdido
Título Original: Man to Man
País de Origem: África do Sul – França - Inglaterra
Gênero: Drama
Tempo de Duração: 122 minutos
Ano de Lançamento: 2005
Direção: Régis Wargnier
Produção: Farid Lahouassa
Roteiro: William Boyd, Michel Fessler, Fred Frougea e Régis Wargnier
Fotografia: Laurent Dailland
Trilha Sonora: Patrick Doyle
Edição: Yann Malcor
Design de Produção: Maria Djurkovic
Figurino: Pierre-Yves Gayraud
Direção de Arte: Zack Groebler e Nick Palmer

1.2 Elenco:

Atriz/Ator Personagem
Joseph Fiennes Jamie Dodd
Kristin Scott Thomas Elena Van Den Ende
Iain Glen Alexander Auchinleck
Hugh Bonneville Fraser McBride
Lomana Boseki Toco
Cécilie Bayiha Likola
Flora Montgomery Abigail McBride
Patrick Mofokeng Zachary
Alistair Petrie Beckinsale
Hubert Saint-Macary Conde de Verchemont
Mathew Zajac Hector Duncan
Willian McBain Angus
Robin Smith Douglas
Ron Donarchie Sir Walter Stephenson



2. ANÁLISE

O filme apresenta o confronto entre a Grã-Bretanha vitoriana e os pigmeus africanos, que é apresentado como o elo entre o homem e o símio, a partir de uma visão de sua própria cultura, que segundo Montaigne “cada qual considera bárbaro o que não se pratica em sua terra”.
Uma expedição em 1870 à inexplorada África Equatorial, organizada pelo ambicioso cientista escocês Jamie Dodd e pela viúva aventureira Elena van den Ende, captura, junto com animais selvagens para zoológicos europeus, um casal de pigmeus, que enfrentam uma dura viagem pelo até a Grã-Bretanha, onde são estudados por Jamie, Fraiser e Alexander, que acreditam na teoria de que os pigmeus representassem um elo entre o homem e o macaco. A base de estudo foi fixada nas terras de Fraiser, onde trancafiaram os pigmeus em jaulas.
Para entender melhor, o filme e o texto de Michel de Montaigne, temos que revisitar o cenário do século XIX e suas crenças cientificas. Os cientistas acreditavam que o berço da humanidade era a África, de tal forma que lá deveria ter um elo perdido, um humanóide que ligaria o símio ao homo sapiens. Os africanos, neste contexto, eram vistos como inferiores, até porque só podem julgar a verdade e da razão de ser das coisas pelo exemplo e pela idéia dos usos e costumes do país em que vivemos (Montaigne).
Os cientistas começaram seus estudos por medições, ao qual eram feitas analogias ao formato craniano, tamanho do cérebro, estatura, sexualidade. Eles já partiram do pressuposto que os dois pigmeus eram de uma raça muito primitiva, basicamente motivada por instintos e com inteligência amplamente inferior a do homem moderno – homem da metade do século XIX -, baseados na teoria da evolução de Darwin, da qual o homem evoluiu do macaco.
Para Montaigne, a essa gente chamamos selvagens como denominamos selvagens os frutos que a natureza produz sem intervenção do homem, e dessa forma, quando apresentados, os pigmeus, a Academia de Ciência de Edimburgo, Fraiser e Alexander, provam sua teoria do “elo vivo” entre os homens e os macacos, rebatem a tese de Jamie, que toma consciência que Toko e Likola, são tão humanos quanto eles, por serem capazes de demonstrar sentimentos e raciocínio e serem fisiologicamente iguais ao homem moderno – contexto do século XIX -, sendo a diferença encontrada na cultura e na civilização.
Porque os homens descritos não conseguiam enxergar que a sociedade pudesse subsistir com tão poucos artifícios, como a sociedade de Toko e Likola, tal qual descreve Michel de Montagne, ‘(...) é um país, onde não há comercio de qualquer natureza, nem literatura, nem matemáticas; onde não se conhece sequer de nome um magistrado; onde não existe hierarquia política, nem domesticidade, nem ricos e pobres. Contratos, sucessão, partilhas ai são desconhecidos; em matéria de trabalho só sabem da ociosidade; o respeito aos parentes é o mesmo que dedicam a todos; o vestuário, a agricultura, o trabalho dos metais aí se ignoram; não usam vinho nem trigo”.
Quando Jamie prova sua teoria, Fraiser e Alexander não conseguem ver acima de seus dogmas e tentam se apoderam do bebê de Likola para estudo, o que é impedido por Jamie e seu patrocinador, e pela ira de Toko, que ataca Alexander em sinal de vingança, tentando defender o que lhe é conhecido, Likola e seu bebê. Porém acaba morto pela fúria dos homens, que igualmente a Toko, julgam moralmente a traição, a deslealdade, a tirania e a crueldade dos atos.