24 de fev. de 2011

O paraíso no coração da América do Sul

Chapada dos Guimarães foi povoado pelos mesmos clã de bandeirantes Paulistas que chegaram as paragens de Cuiabá na busca de ouro e preá de índios para servirem de escravos.
Em 1751 o Governador Capitão General D. Antonio de Moura Tavares, mandou estabelecer um aldeiamento, onde fossem recolhidos os índios das diversas nações a fim de coibir as incursões contra os civilizados, surge o Adeiamento de Santana, com administração dos padres jesuítas.
Em 1769 é transformado em Sant'Ana de Chapada dosGuimarães, nome dado pelo então Governador Luiz Pinto de Souza Coutinho.






A natureza e as formações rochosas são os principais atrativos para quem visita Chapada. O relevo é considerado um dos mais antigos de todo o país e foi originado de abalos sísmicos ocorridos há mais de 500 milhões de anos atrás. Depois, foram recobertos por gelo, viraram fundo de mares antigos e finalmente, com a ajuda das chuvas e ventos, foram esculpidos até chegarem na forma atual.
Uma das atrações de Chapada é o lugar conhecido como Cachoeirinha, uma queda d’água de aproximadamente 15 metros formada pelo rio Coxipozinho (que depois forma o cartão-postal do Véu de Noiva), rodeada por uma pequena praia de areia e uma mata exuberante entre rochas. Facilmente acessível pela rodovia Emanuel Pinheiro, que liga Cuiabá a Chapada dos Guimarães, paga-se para entrar no local.
Vale à pena conferir.


O entardecer no Zoológico da UFMT

O Zoológico de Cuiabá está localizado no Campus da Universidade Federal de Mato Grosso, entre as avenidas Fernando Côrrea da Costa e Arquimedes Pereira Lima (estrada do moinho).


Com uma área de 11 hectares, o Zoo abriga 469 animais, que incluem répteis, aves e mamíferos dos três ecossistemas regionais: Amazônia, Cerrado e Pantanal.
Segundo o site da UFMT - www.ufmt.br/institucional/reitoria/balanco_social/html/zoologico.htm - A grande maioria das espécies presentes no Zoológico está ameaçada de extinção.


Jacaré

Pôr-do-sol


Lobo Guará

Onça Parda

Garça Branca aninhando no entardecer














21 de fev. de 2011

Resumo: O saber histórico na sala de aula


BITTENCOURT, Circe Maria Fernandes (org.). O saber histórico na sala de aula. São Paulo: Contexo, 2006.
O livro tem a proposta de contribuir para a necessária reflexão dos professores, pesquisadores e, no nosso caso, de alunos de graduação, acerca da reformulação das políticas públicas de educação e da disciplina de História no que tange a redefinição dos conteúdos e dos métodos de ensino.
São ensaios da própria Circe Bittencourt e dos professores Kátia Abud, Maria de Lourdes Monaco Janotti, Maria Auxiliadora Schmidt, Antonio Terra, Adriana Mortara Vasconcellos, Elias Thomé Saliba, Ricardo Oriá, Carlos Alberto Vesentini e Marcos Napolitano, referentes a duas temáticas: propostas curriculares e linguagens no ensino de história.
O livro apresenta-se como importante instrumento de apoio para os profissionais da área de educação na hora de elaborarem suas propostas de atividades. Numa linguagem clara e objetiva visando uma melhor compreensão das ideias e sugestões ali contidas.
O saber histórico na sala de aula dá continuidade e aprofunda uma discussão muita intensa que remonta aos anos 1970 e 1980 no Brasil sobre a necessidade de uma revisão nas práticas, métodos e conteúdos da história ensinada. Neste período percebemos uma maior abertura para questões ligadas à educação no país, especialmente após o fim da ditadura militar instaurada desde 1964. Se percorrermos as estantes e prateleiras de livrarias e bibliotecas, poderemos nos deparar com uma expressiva produção de livros e artigos em revistas especializadas sobre o assunto. O próprio livro em questão nos oferece exemplos na suas referências bibliográficas sobre esta produção com quem dialoga, contrapõe-se, complementa, polemiza, concorda em diversos aspectos.
A primeira parte - Propostas Curriculares - é composta pelos artigos Capitalismo e Cidadania nas atuais propostas curriculares de História, Currículos de História e políticas públicas: os programas de História do Brasil na escola secundária, História, política e ensino e A formação do professor de História e o cotidiano da sala de aula
Em Capitalismo e cidadania nas atuais propostas curriculares de História, Circe Bittencourt, faz uma análise das diferentes propostas curriculares já elaboradas no país entre 1990 e 1995, traz um breve histórico e características das propostas curriculares analisadas e vai articulado com as transformações políticas, sociais e culturais vividas pela sociedade brasileira nesse período. Bittencourt percebe uma mudança nos paradigmas no que tange o pensar a idéia de identidade nacional e cidadania no Brasil e sugere a enfase da ampliação do conceito de cidadania no interior das propostas curriculares de História.
No artigo, Currículo de História e políticas públicas, é elaborado um história da disciplina no Brasil desde os primórdios do Império, passando pela os vários momentos do regime republicano até chegar as recentes discussões sobre as reformas curriculares realizadas a partir de 1980.
No artigo História, Política e Ensino, alerta para necessidade de se repensar o papel dos conceitos de política, passado e memória dentro do ensino de História. Temas recentes da História Imediata, na sua leitura, são mais privilegiados e acatados do que o estudo dos acontecimentos passados por importantes setores da pesquisa e ensino, que pensam, dessa forma, “reagir contra o racionalismo positivista e marxista, ocultador das descontinuidades.
A segunda parte do livro – Linguagem e Ensino – é composta de sete ensaios que abordam os usos de diferentes fontes, métodos e linguagens no ensino de História. Devemos prestar especial atenção ao destaque dado pelos autores ao uso de fontes como livros didáticos, pinturas, objetos e artefatos, fotografias, programas de TV e filmes na sala de aula para a construção do conhecimento histórico.
Ela constitui belas propostas de trabalho que podem ser apropriadas de acordo com os interesses e necessidades de professores e alunos nas aulas de História.

17 de fev. de 2011

A Defesa

Corrêa Filho, Virgílio. A Defesa. Página 540-544. In: Corrêa Filho, Virgílio. História de Mato Grosso. Rio de Janeiro: Instituto Nacional do Livro, 1969.

Segundo relatos do prof. Corrêa Filho, em 1º de janeiro de 1865 chega a Cuiabá a notícia da invasão das tropas paraguaias sob comando de Solano Lòpez ao território de Mato Grosso. No dia 7 com a chegada do vapor “Paranhos” tem-se a noticia da tomada de Corumbá e do vapor Anhambaí.
O terror tomou conta da capital, o Presidente da Província, aciona a Guarda Nacional e o povo cuiabano às armas. O Corpo de Voluntários Cuiabanos, com os reforços do 1º Batalhão dos Nacionais e pelo 2º, 3º e 4º, determinou que fortificasse a colina do Melgaço, sob o comando do Coronel Hermenegildo Pôrto Carreiro.
Como já circulava navios paraguaios pela Barra do Cuiabá, reúne Pôrto Carreiro, Comandante da Expedição, o Conselho de Oficiais, que opinam pelo abandono de Melgaço e o regresso à Cuiabá. O ato correspondia a confissão prévia da derreta, sem luta, como em Corumbá.
O Presidente nomeia Augusto Leverger como Comandante Superior de toda Guarda Nacional da Província de Mato Grosso, que ao encontrar as força embarcada assumiu o comando e num gesto de confiabilidade convoca os soldados:
marchemos, senhores, a guarnecer o ponto abandonado e quando não possamos impedir a passagem do inimigo, que ao menos façamos conhecer que protestamos por meio da artilharia. Que me acompanhe quem quiser.
Com a adesão da grande maioria, partem no vapor “Cuiabá”. Conseguiu animar os homens e dissipar a insegurança da capital. Quando da normalizada a situação, solicitou dispensa dos cargos e na sua volta, foi recebido com louvores pela população cuiabana.
Foi levado ao posto de Presidente pela Carta Imperial de 2 de outubro, passando por dificuldades em repor os armazéns.

16 de fev. de 2011

As Identidades do Brasil: de Varnhagen a FHC


José Carlos Reis, em seu livro As Identidades do Brasil: de Varnhagen a FHC ressalta a importância e a contribuição de cada historiador e pensador social na descoberta e na formação das identidades do Brasil, analisadas dentro do tempo em que suas idéias foram concebidas, contribuindo para apertar os laços com uma tradição rica porém relegada em favor da cultura up to date. São esses historiadores que traçaram, ou melhor seria dizer que inventaram, as identidades do Brasil e consequentemente orientaram os brasileiros em suas opções de auto identificação e auto representação.
O tempo, de aula, não nos foi suficiente para refazer os 120 anos abordados por Reis em As Identidades do Brasil, a viagem teve que ser um pouco mais curta e a apreciação ficou por conta dos: Anos 1850: Varnhagen: O elogio da colonização portuguesa; Anos 1930: Gilberto Freyre: O relógio da colonização portuguesa; Anos 1900: Capistrano de Abreu: O surgimento de um povo novo: o brasileiro; e, Anos 1930: Sérgio Buarque de Holanda: A superação das raízes ibéricas.
Varnhagen e Gilberto Freyre trabalham na identificação das forças que reproduziram e renovaram a dependência com os descobridores (portugueses), já Capistrano de Abreu e Sérgio Buarque de Holanda trabalharam as forças que produziram a autonomia e a emancipação brasileira. Duas correntes de pensamento, uma positivista e outra marxista, nos permite ressaltar a complexidade historiográfica brasileira ao mesmo tempo que nos ajudam a ver uma sociedade colonial numa perspectiva ampla através de objetos, fatos e fontes.
No período de independência política o imperador precisava muito da história e dos historiadores e assim criou o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro – IHGB em 1838/39, que até 1931/33 foi o único centro de estudos históricos do Brasil. Essa necessidade era advinda da necessidade de legitimar o poder. Era preciso 'dar' um passado a nação independente no qual era pudesse orgulhar-se e ter confiança para avançar no futuro. Nesse processo tornou preciso encontrar referências luso-brasileiras para tornar-se modelos para as futuras gerações. (Reis, 2001:25).
Desse modo o IHGB teria a tarefa de, segundo Reis, situar as cidades, relevos, hidrografias, fauna e flora, riquezas minerais, céu, clima, além dos limites do território, na área geográfica e na área histórica, eternizar fatos memoráveis da pátria e salvar do esquecimento os nomes dos seus melhores filhos, através de publicações, estudos e relacionamento com outras instituições congêneres. (Reis, 2001:26).
Em seu livro As identidades do Brasil de Varnhagen a FHC, Reis afirma que a proposta de síntese da história do Brasil não foi realizada, contudo, por Karl Philipp von Martius, botânico e viajante alemão, vencedor do prêmio estabelecido em 1840, pelo IHGB, para quem elaborasse o melhor plano para a escrita da história do Brasil, com a monografia Como se deve escrever a história do Brasil, publicada na Revista do IHGB, em 1845. Em linhas gerais von Martius escreveu que a identidade brasileira deveria ser buscada na mescla de raças, onde o português foi o conquistador e senhor, o inventor e motor e aventureiro; os indígenas também foi dado ênfase; ao negro, foi breve, deixada a dúvida se o Brasil “teria tido um desenvolvimento diferente sem a introdução dos negros escravos?”. Após von Martius todas as respostas foram negativas até a publicação de Casa grande & Senzala, de Gilberto Freyre em 1933 (Reis, 2001:27).
Voltando em Von Martius e em Como se deve escrever a história do Brasil, onde ele considera que o historiador do Brasil deveria fazer uma história da unidade brasileira, centralizada no Imperador, enfatizando a unidade em todos os aspectos – usos e costumes, climas, atividades econômicas entre outras. Ele também propõe que se faça histórias regionais centralizadas. E para auxiliar nesse processo era primordial viajar pelo Brasil, conhecer as províncias assim “seu texto deverá ser patriótico, despertando o amor ao Brasil”. Mas diante da enormidade do trabalho Von Martius não levou seu projeto adiante, essa tarefa coube a Francisco Adolfo de Varnhagen (Reis, 2001:28).
Varnhagen é Filho de engenheiro alemão e mãe portuguesa, Varnhagen (1816 - 1878) foi para Portugal ainda criança. Ao regressar para o Brasil, e com a coroação de Dom Pedro II, adotou a nacionalidade brasileira. Segundo Reis, Varnhagen é considerado o “Heródoto brasileiro” e nessa condição o fundador da história do Brasil, com o livro História geral do Brasil de 1850, onde refletia uma preocupação com a documentação sobre o passado brasileiro (Reis, 2001:23).
Varnhagen por frequentar os arquivos dos lugares que passava foi o iniciador da pesquisa metódica e nos arquivos estrangeiros encontrou e elaborou inúmeros documentos relativos ao Brasil. Por viver muito tempo no exterior se empenhou com obstinação na escrita da história do Brasil, mas quanto à sua formação historiográfica, teria sido mais um autodidata. (Reis, 2001:24).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA

REIS, José Carlos. Anos 1850: Varnhagen. O elogio da colonização portuguesa. In: REIS, José Carlos. As identidades do Brasil: de Varnhagen à FHC. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 2001. p. 22-50.
REIS, José Carlos. Anos 1930: Gilberto Freyre. O relógio da colonização portuguesa. In: REIS, José Carlos. As identidades do Brasil: de Varnhagen à FHC. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 2001. p. 51-82.
REIS, José Carlos. Anos 11900: Capistrano de Abreu. O surgimento de um povo novo: o brasileiro. In: REIS, José Carlos. "As identidades do Brasil: de Varnhagen à FHC". Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 2007. p. 85-114.
REIS, José Carlos. Anos 1930: Sérgio Buarque de Holanda. A Superação das raízes ibéricas. In: REIS, José Carlos. As identidades do Brasil: de Varnhagen à FHC. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 2007. p. 115-143.

9 de fev. de 2011

A coroa do mundo: religião, território e territorialidade Chiquitano

Resenha apresentada para conclusão da disciplina de América I, ministrada pelo prof. Dr. Ernesto Sena, pela aluna Kelly Lohnhoff de Souza:

Moreira da Costa, José Eduardo Fernandes. A coroa do mundo: religião, território e territorialidade Chiquitano. Editora da UFMT, 2006.


Já no prefacio do livro, Jürgen Riester, diz 2.500 chiquitano “tienen como morada el território brasileiro” (pág. 13).
Esse levantamento dos chiquitano foi possível somente pelo Estudo de Impacto Ambiental – EIA quando da construção do gasoduto Bolívia-Mato Grosso, que mostrou uma população significativa desse povo.
O autor utiliza o significado de Parejas Moreno e Sales (1192, p. 313), que chamaria de “Chiquitanos a todos los indígenas del continente admitidos em la comunidad de la província de Chiquitos” e explica que a grafia no singular é consequência da primeira reunião da Associação Brasileira de Antropologia – ABA, realizada em 1953 no Rio de Janeiro e publicada na Revista Antropologia, Vol. 2, nº 2 em dezembro de 1954.
Com o reconhecimento étnico promovido pela FUNAI – Fundação Nacional do Índio – em 1999, foram incluídos nas diversas ações do governo, seja de assistência na área da saúde e educação, ou com programas estratégicos, tais como o BID Pantanal, o Sistema de Vigilância da Amazônia – SIVAM e o Projeto de Segurança Integrado da Região da Fronteira Oeste.
Eles estão localizados em uma região compreendida pelos paralelos 15º e 16º30’ de latitude sul e os meridianos 57º30’ e 60º30’ de longitude oeste de Greenwich, situada no extremo oeste de Mato Grosso, entre os municípios de Cáceres, Porto Esperidião, Pontes e Lacerda e Vila Bela da Santíssima Trindade.
Em 1691, com incentivo do governo de Santa Cruz de la Sierra, os padres inacianos fundaram varias missões religiosas nas Províncias de Chiquitos: San Xavier, San Rafael, San José, San Juan Bautista, Concepción, San Miguel, San Ignácio de Zamucos, San Inácio, Santiago, Santa Ana e Santo Corazón. Ali se reuniam diversas etnias: Pinocas, Taus, Boros, Petas, Chiquitos, Guarayos, Saravecas, Kuruminacas, Otuques, Zamucos, Manacicas, Tapis, Potororos entre outras.
As missões eram dirigidas por jesuítas encarregados das atividades espirituais e materiais, que contavam com uma espécie de gabinete, o Cabildo Indígena, composto por caciques para auxiliar. Os índios deveriam cumprir com obrigações religiosas e produtivas para a própria subsistência e para o comercio cm o Ocidente andino, em caso de desobediência, a mesma era punida severamente com castigos corporais e prisões.
Após o Tratado de Madri, em 1750, foi estabelecida uma política de povoamento da fronteira, inclusive com a distribuição de sesmarias e o deslocamento das pessoas para a fronteira da Capitania de Mato Grosso com a Província de Chiquitos. Mas para a posse da terra era necessária mão-de-obra, assim os índios foram acolhidos para fomentar a produção de gêneros alimentícios e fornecer braços para a ocupação portuguesa.
Em 1850 com a promulgação da Lei de Terras, além da definição dos limites da Província de Mato Grosso, intensificaram a ocupação das terras dos índios Chiquitano na faixa de fronteira, utilizando sua mão-de-obra, através de serviços forçados, em geral.
Na década de 1970, com o Estatuto da Terra e a chegada do Instituto de Colonização e Reforma Agrária – INCRA - fomentam a regularização fundiária e expropriam os índios chiquitos, jogada a própria sorte, as famílias nucleares construírem novas moradas nos lotes destinados pelo INCRA, ou foram sendo diluídas e seus membros dispersos.
Diante da segregação imposta, passaram a ser denominados com adjetivos pejorativos, tais como bugres, preferiam ocultar a identidade indígena, a língua e suas próprias raízes históricas e culturais, e todos vestígios que fizessem com que deixassem de serem percebidos como cidadãos brasileiros.
Nesse sentido, o autor, focou sua pesquisa, em uma analise que aproxime o cotidiano d grupo de Chiquitano no Brasil de um panorama etnogeográfico. Sendo o título A Cora do Mundo, gestado a partir da percepção do líder espiritual Chiquitano, Lourenço Rupe, referindo a antiga Missão de Santa Ana como a coroa do mundo, o centro de referencia histórico-cultural de sua religiosidade.
Ao trazer a etnia para o centro da análise geográfica, o vinculo com a terra informa sobre o grupo, compõe sua identidade e traduz sua trajetória assinala, marcos, limites, percursos dos antepassados, divergências internas e tantos outros marcos seja em relação à natureza, seu modo de habitat.
Através da Geografia Cultural percebe-se que as manifestações culturais como as cerimônias religiosas indicam, entre outras coisas, a realização da sociedade em reconhecer em seu território os laços que os unem e sua identidade cultural. Assim, as romarias dos Chiquitano possibilitam romper fronteiras, percorrendo territórios construindo e reforçando o arco de aliança, congregando pessoas, visitando casas, chácaras e sítios.
O autor tenta estabelecer a relação entre religião, território e território como objeto de analise proposto, em que o espaço sagrado reflete valores culturais e históricos, remontando a trajetória do grupo também dentro do contexto da Geografia Política, descortinando o território Chiquitano, com suas formas variadas, com suas contradições e uma superposição de diversos territórios.
Para o autor, o espaço não guarda apenas a historia, mas a condição para a sua realização, produzindo combinações especifica. Assim, o seu estudo procura abordar seu objeto através de diferentes perspectivas, intecionando compor uma visão-sintese da questão, através da produção acadêmica da geografia e das ciências sociais, conceptualizando a territorialidade dos Chiquitano, vinculada a uma dimensão histórica e simbólico-cultural.
O autor escolheu a procissão de Santa Ana como objeto de pesquisa a ser priorizado devido ao fato de ser uma das principais manifestações da religiosidade Chiquitano, dura cerca de 60 dias de peregrinação entre fazendas e aldeias, por um extenso percurso de aproximadamente 400 km de caminhada. O trabalho de campo foi realizado durante o ano de 2003, pautado por entrevistas abertas e dirigidas aos índios, dirigentes eclesiásticos, funcionários de prefeituras, gerentes de hotéis, fazendeiros, militares, membros de associações civis, vendedores ambulantes e comerciantes locais.
No subtítulo A Formação do Território Chiquitano, o autor passa abordar a busca pelo El Dourado, e a fundação do Puerto de los Reys na região do alto Paraguai, por Domingos Martinez de Irala, onde negociou com os índios Xarayes a obtenção de informações seguras e apoio para penetrar rumo ao oriente. Por volta de 1547, o capitão Irala, em companhia de Nuflo de Chaves, percorre esse caminho e cruzam os territórios dos Mbayás, Chanés, Toyanas, Payonos, Mayákenos, Moronos, Pornis, Simenos, Guorkonos, Karkonos, Siberis, Paysunos, Gorgotis, para assim atingir o rio Guapay ou grande, morada dos Tamakosis.
Nessa expedição eles cruzaram com índios que dominavam o idioma castelhano e perceberam que a região estava sendo também explorada pelo vice-reinado do Peru. Em meio a estabelecer no caminho entre Assunção e Lima, Nuflo, funda, em 1559, Nueva Asuncion, a primeira povoação no território Chiquito.
Nuflo de Chaves utilizando habilidades persuasivas e da relação de parentesco de sua esposa com o vice-rei do Peru, pois fim da disputa de terras entre Paraguai e Peru, voltou a Lima como tenente-general do governo de Moxo, expulsa o capitão Manso de La Barranca e subjuga os índios Tamakosis e os Gorgatokis, instalando Santa Cruz de La Sierra em fevereiro de 1561, dois séculos depois, a Missão de San José dos Chiquitos.
Ao explorar as possíveis riquezas da Província de Moxos, estabeleceu numerosas encomiendas submetendo milhares de índios de diferentes etnias ao regime forçado, trabalhando na encomienda originária onde eram submetidos a trabalhos realizados diretamente nas casas e fazendas, pelos serviços domésticos e trabalhos agrícolas, muitas vezes as índias eram tomadas como concubinas e na encomienda mitaya onde era permitido aos índios viverem em suas terras originárias, porem, obrigados a trabalhar regularmente nas propriedades dos encomienderos.
Sendo que os assaltos constantes praticados pelos indígenas serviram como mais um motivo para que os espanhóis escravizassem e os vendesse no altiplano, isso com o respaldo do governo da província. Nesse interir, os espanhóis já haviam descoberto um antídoto para o veneno das flechas dos Chiquitos, que começavam a travar batalhas com os mamelucos, os bandeirantes brasileiros.
Como os mamelucos tornaram-se oponentes dos Chiquitos, estes se apresentaram como aliados estratégicos na defesa do espaço colonial, capazes de obstar uma possível expansão dos domínios portugueses.
Assim, evangelizar e armar os índios Chiquitos passou a nortear a política de defesa do território que culminou na organização das reduções como forma de conter a ação dos invasores.
Em 1635 na Audiência de Charcas é autorizada a conquista espiritual dos índios pelos jesuítas, que iniciam em 1668 as primeiras missões em Mojos y Chiquitos.
A entrada efetiva da Companhia de Jesus na Província de Chiquitos por um lado desagradava a maioria da população de Santa Cruz que via aí um obstáculo ao trafico indígena e por outro lado os que acalentavam a ilusão de alcançarem a Província de Moxos.
As missões apresentavam, antes de tudo, como um reduto seguro. E assim foram sendo fundadas: em 1691 San Francisco Javier, em 1696 San Rafael, em 1721 San Miguel, em 1755 Santa Ana.
O trabalho de redução dos índios era de uma enorme complexidade e realizado em circunstancia de extremo risco, sendo que o missionário deveria ser dotado de fé e motivação inquebrantáveis. Eles respondiam a autoridade do Governo e do Bispado de Santa Cruz, sendo, contudo, regidas por uma legislação específica, a Recopilacion de las Leys de Índias, de 1680.
Para o autor, a complexidade da tarefa missioneira não era apenas de superar a barreira da língua, mas também de contornar o raciocínio lógico dos índios. Assim, os missionários, inicialmente eram obrigados a tolerarem e a dedicarem um aspecto exterior da doutrina cristã como forma de incorporar os índios gradativamente ao cristianismo.
As concepções do sagrado aproximavam mais as religiões indígenas entre si do que estas com a teologia cristã, que era operada com elementos estranhos à realidade local. Fazendo com que o xamanismo sobrevivesse como ato secreto, destinado à satisfação dos interesses individuais e de reconhecida importância terapêutica.
A religião cristã, e aqui o autor cita Jürgen Riester (1986), sob a ótica indígena, era povoada por personagens distantes de um mundo intangível, diante da concretude local, e repleta de historias de personagens capazes de realizarem proezas fantasiosas de difícil reprodução.
Em outro aspecto, o autor, diz que os índios estavam integrados à propriedade coletiva, o sistema missional contava também com uma rede de estâncias, como uma maneira de superar as longas distancias entre os povoados, além de abastecer de carne e animais de transporte pessoal e de carga.
Em terras brasilis, no inicio do século XVIII, bandeirantes descobrem ouro em terras dos índios Coxiponé, fundando em 1719 o Arraial do Bom Jesus de Cuyabá, um pólo minerador em um dos afluentes do Alto Paraguai.
Com a ocupação luso-brasileira se estendendo até o território de Cuyabá, do Solimões ao rio Grande de São Pedro, instalou-se uma tensão entre espanhóis e portugueses.
Dom João V contratou em 1722 dois padres matemáticos da Companhia de Jesus para fazerem observações e mapas do Brasil e dos seus sertões estabelecidos em território reservado à Espanha.
Cuiabá e as minas de Mato grosso, aqui como fonte o autor cita Cortesão (2001, p.148-150), começava a se configurar como centros formadores de fronteira. E dessa forma, a metrópole necessitava assegurar definitivamente a comunicação do rio Guaporé com o rio Jauru, este afluente ocidente do Alto Paraguai.
Ocorre que para chegar nas minas de Cuiabá era necessário adentrar profundamente em terras ditas como castelhanas, atravessando diversos territórios indígenas.
Criou-se a Capitania de Mato Grosso em 1748 tendo Vila Bela da Santíssima Trindade como sede, em 1752, o que assegurava as possessões a Portugal.
Com a expulsão dos jesuítas das Missões Espanholas e a substituição pelos padres seculares que passaram a permitir a utilização da mão-de-obra indígena pelos encomendeiros. Levaram os índios a procurarem abrigo em território português contra as perseguições dos novos patrões e atraídos pelas benesses da Coroa Portuguesa – os aldeamentos de índios na beira do rio Barbado e as fazenda de gado (Nacional da Caiçara e Caité).
O major Frederico Rondon, citado pelo autor, sinaliza a transferência dos índios da Província de Moxos para Casalvasco em 1783. Ela era constituída por extensas terras, abrangendo todo o vale do rio dos Barbados e do rio Alegre.
No capitulo sobre a Coroa do Mundo, o autor, diz que a Missão de Santa Ana, por ter sido alçada à sede do governo da antiga Província de Chiquitos, pode contar mais regularmente com os serviços religiosos das curas seculares, constituindo-se em uma referencia regional, inclusive contando com prestigio político e religioso, como núcleo do poder e convergência de pessoas e decisões.
Anualmente uma procissão sai de Santa Ana em direção à fronteira do Brasil. Esses pequenos grupos de missioneiros carregam a imagem da santa padroeira da missão e no transcorrer da procissão vai agregando temporariamente novos devotos.
O itinerário da peregrinação são previamente discutido e estabelecido com base na trajetória da viagem anterior. O tempo de permanecia é de um a três dias no seio das comunidades. Escolhem a casa em que a santa fará noite e onde serão acolhidos e alimentados. Visitam as casas, orando pela saúde e prosperidade dos moradores e recolhem dinheiro e donativos. Visitam também cemitérios para rezarem pelas almas dos que já faleceram.
Eles iniciam o percurso pelas comunidades e propriedades rurais localizadas na Bolívia, depois passam a visitar as situadas exclusivamente em solo brasileiro e novamente atravessam a fronteira e retornam para Santa Ana.
No Brasil um dos locais visitados, em 2003, é a Comunidade de Santa Mônica, próxima à fronteira com a Bolívia, junto ao Destacamento Militar de São Simão. O autor diz que durante muito tempo, a peregrinação se estendeu até a comunidade de Fortuna e outros núcleos populacionais Chiquitano.
No texto A espera da santa, o autor, descreve o amanhecer na cidade de Santa Mônica e a preparação da chicha, uma espécie de cerveja apreciada pelos índios, descrevem o funcionamento da aldeias, os casamentos.
Na parte que descreve O espaço sagrado e profano é descrito a festa, o comercio, a agitação dos romeiros, descreve a Igreja de Santa Ana com suas características especiais com um suave brilho resplandecente quando, sob a luz solar, devido ao uso de mica em sua decoração.
O espaço sagrado é o lugar onde se encontra a imagem da santa, onde a simbologia e os ritos mágico-religiosos possibilitam a ligação entre o Chiquitano e o divino; já o profano é compreendido pela área externa da igreja, onde está reservado ao comercio, ao lazer e à habitação.
Moreira da Costa destaca que “o ritual católico não impediu os Chiquitano de acomodar a religiosidade indígena pré-jesuítica”, prosseguindo diz que “terminada a cerimônia, se despedem da santa e seguem para o prédio oficial do Cabildo (...) ao som da música Chiquitano, bebem chicha e dançam”.
A revelação trazida pela fé crista aparentemente, diz Moreira da Costa, não destruiu os significados pré-jesuíticos da simbologia indígena, acrescentando um novo valor. A oblação da chicha é parte de sua tradição mais viva, com força suficiente para resistir no âmago de cada um e nas representações coletivas.
A festa de Santa Ana, entre outros significados, indica a realização da sociedade (índios e não-índios) no reconhecer não só a sua própria humanidade, mas também os laços que nos une.
Para Moreira da Costa, a restauração das antigas missões de Chiquitos e a sua declaração pela UNESCO de Patrimônio Cultural da Humanidade, cujo conteúdo simbólico-cultural é alimentado pelas festas religiosas e procissões, constituiu em um importe evento na vida de Chiquitos. Para Moreira da Costa marca o inicio de um processo de revitalização do território Chiquitano.

8 de fev. de 2011

CATIVOS DO SERTÃO: VIDA COTIDIANA E ESCRAVIDÃO EM CUIABÁ: 1850/1888 DE LUIZA RIOS RICCI VOLPATO

INTRODUÇÃO
A partir da documentação produzida pelos órgãos oficiais do governo que se encontram no Arquivo Público de Mato Grosso é possível levantar diversas informações a respeito do viver em Cuiabá, especialmente, no caso, dos cativos (escravos), no período de 1850 a 1888. Período esse coincide com a proibição do tráfico negreiro (1850) e a libertação dos escravos no Brasil (1888).
Busca-se resgatar informações sobre o cotidiano dos escravos e o processo de transformações vivido pela sociedade cuiabana, vincula-se ao desejo de desvendar as alterações escravistas, elucidando as alianças e os confrontos possíveis nesse universo de relações humanas.

JUSTIFICATIVA
O trabalho busca pensar o cativo como ser humano no espaço do dia-a-dia, tomando atitudes próprias do indivíduo e lutando contra a sua coisificação, buscando adentrar na intimidade das relações humanas, na tentativa de resgatar como os homens comuns, sujeitos da história, viveram e perceberam sua existência.
O estudo do cotidiano procura desvendar estas relações numa tentativa de recuperar elementos que permitam recompor as tramas e os emaranhados que caracterizam a história social.

OBJETIVOS
Os objetivos da proposta é estudar a vida cotidiana dos escravos e através dela perceber nas relações próprias do dia-a-dia sua luta e resistência diante da escravidão.

QUADRO TEÓRICO
O estudo do cotidiano dos escravos foi aberto no Brasil pelo livro de Gilberto Freyre, Casa Grande & Senzala, que busca através da análise das relações senhor/escravo comprovar a docilidade da escravidão brasileira, germe da democracia, racial imperante no país. Vários trabalhos foram elaborados pra refutar as ideias de Freyre.
O historiador norte-americano, Eugene Genovese, através do livro A terra prometida, destacou a importância do papel desempenhado pelos processos de acomodação, bem como pelos mecanismos sutis de cooptação, os quais não deixaram de existir, embora o sistema de dominação se desse pela coerção.
Tanto os estudos de Eugene Genovese como de outros historiadores brasileiros buscam trazer à luz novos esclarecimentos sobre a escravidão no Brasil, em especial numa cidade pouco populosa, distante dos grandes centros e dos principais mercados, em uma região de fronteira, com grande número de soldados e ex-soldados fazendo parte de sua camada popular.
Nesse contexto ocorre a preocupação deste estudo recuperar dados sobre a forma de vida dos cativos de uma região pobre do Brasil, que faziam parte de plantéis pequenos, podendo por esta razão ser conhecidos e identificados pelo nome, não só pelos seus senhores, mas também por outras pessoas que viviam na região, eliminando assim uma forma de camuflagem do escravo, que era o anonimato.

FONTES
A principal documentação a ser utilizada será advinda de fonte oficial, que faz parte do acervo do Arquivo Público Estadual de Mato Grosso: relatórios produzidos por diversas autoridades provinciais e correspondências trocadas entre elas. Será utilizada também textos jornalísticos, a partir da década de 1860, de periódicos locais ligados ao governo provincial.
Além da documentação do Arquivo Histórico do Cartório do 2º Ofício, cartas de liberdade do trabalho, contratos de quartamento – que permitiam ao escravo pagar sua carta de alforria parceladamente.

BIBLIOGRAFIA
VOLPATO, Luiza Rios Ricci. Cativos do Sertão: vida cotidiana e escravidão em Cuiabá: 1850/188. Editora da Universidade Federal de Mato Grosso: Cuiabá,MT, 1993.

2 de fev. de 2011